domingo, 1 de novembro de 2020

A Desigualdade Social na Pandemia



Constatou-se que a pandemia serviu como um grande catalisador para a desigualdade social no mundo todo, beneficiando principalmente empresários e acionistas ligados ao setor digital e de novas tecnologias. O estudo do Institute For Policy Studies e a Americans for Tax Fairness demonstra que a fortuna dos 643 estadunidenses mais ricos cresceu 29% desde o início da pandemia, em março. Ainda mostra que as fortunas analisadas passaram de US$ 2,95 trilhões, em março, para US$ 3,8 trilhões, em setembro.

O que explica isso é o próprio capital especulativo não parar e, em contra partida, se valorizar, em detrimento do baque financeiro que o trabalhador médio sofreu com a falta de serviços na pandemia. Esse grande excedente gerado obviamente não sai da bolha dos milionários e é dividido entre os próprios acionistas, evidenciando ainda mais a desigualdade em um momento extremamente crítico, que não pode ser amenizado por doações. A tributação de dividendos (diretamente às pessoas físicas, ao invés das pessoas jurídicas), com uma maior progressão na taxa de impostos de acordo com a renda, poderia ser uma mudança significativa no que tange a redistribuição financeira. No entanto, sabemos que esse tipo de iniciativa, no âmbito brasileiro, não se insere na prática Bolsonarista de governar.

Do outro lado da pirâmide, 176 milhões novos pobres podem surgir da crise sanitária, de acordo com a ONU, sendo, principalmente, aqueles que vivem na pobreza extrema as maiores vítimas, com muitos nem conseguindo o acesso ao auxílio emergencial, sem contar os trabalhadores que perderam seus empregos e direitos sociais frente à pandemia.

Dados do IBGE e da PNAD de 2018 nos mostram que 13% dos brasileiros (cerca de 27 milhões de pessoas), vivem em domicílios com pelo menos alguma inadequação, como ausência de banheiro de uso exclusivo, paredes construídas com material não durável, adensamento excessivo ou ônus excessivo com aluguel. Mostram-nos também que 35,7% da população brasileira (mais de 74 milhões de pessoas), vive em domicílios sem coleta de esgoto sanitário. Os dados também apontam o Norte e o Nordeste com os piores índices habitacionais e de saneamento, sendo a maior proporção de incidência entre pessoas negras e de baixa escolaridade. 

Não coincidentemente, na periferia brasileira, a região Norte é a que tem apresentado as maiores taxas de letalidade do coronavírus: cerca de 10 vezes mais do que a região Sul, segundo o Ministério da Saúde. Os estados do Amazonas e do Pará são duas das três unidades da federação em que mais de 20% da população necessita de até quatro horas de deslocamento para chegar ao município mais próximo que ofereça condições de atendimento para casos graves de Covid-19. Além de que o estudo do Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde da PUC-Rio concluiu que pessoas negras sem escolaridade têm quase 4 vezes mais chances de morrer de Covid-19 do que pessoas brancas com ensino superior. De acordo com a Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, 67% dos brasileiros que dependem exclusivamente do SUS são negros. Em São Paulo, bairros periféricos e de população majoritariamente negra, como Capão Redondo, Jardim Ângela, Grajaú, Sapopemba e Brasilândia apresentam uma letalidade maior que a média do município, mesmo não tendo necessariamente os maiores índices de contaminação.

Para piorar as expectativas, dados divulgados pela Secretaria do Tesouro Nacional revelam que o governo gastou pouco mais de 23% dos R$ 253 bilhões liberados para o combate ao novo coronavírus, o que mostra que não há nenhuma preocupação em amenizar o sofrimento daqueles que mais são atingidos pela pandemia. Provando, portanto, que não há outra saída que não seja a organização e a luta popular!

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