terça-feira, 29 de março de 2022

Governo Boric será de direita besuntado em um esquerdismo de fachada



No dia 11 o novo presidente do Chile tomou posse, após 4 anos de governo do direitista Sebastián Piñera. A imprensa internacional deu muito destaque para Gabriel Boric, principalmente no que diz respeito à sua imagem, postura e na composição de seu novo governo.

No que diz respeito à sua imagem, vários jornais destacaram que houve um amadurecimento em relação ao menino despojado de cabelos longos e barbudo da época em que era líder estudantil, enquanto ao mesmo tempo Boric não deixava de ser um rebelde ao deixar de usar gravata.

Por sua postura, os elogios eram imensos, já que Boric procurou se apresentar como um candidato de esquerda mas que promete moderação e diálogo com todos os setores, enquanto critica todo e qualquer governo que desrespeite os direitos humanos, independente de sua coloração, segundo palavras do próprio presidente chileno.

Já seu governo é composto majoritariamente de mulheres, o que lhe valeu a alcunha de feminista.

A maioria da esquerda acompanhou a imprensa mundial e encheu seus jornais e redes sociais com declarações que lembram como “a esperança”, “a luz” e “o amor” voltaram ao Chile e à América Latina com a eleição deste candidato “jovem”, “visionário”, “sensato” e etc.

Acostumada ao ridículo de declarações que mais parecem mensagens de bom dia em grupos de Whatsapp, no entanto, a esquerda pequeno burguesa não conseguiu enxergar (novamente) para além daquilo que é dito pela imprensa burguesa e pró-imperialista.

Uma coisa é certa, Boric realmente mudou conforme o tempo (se é que algum dia realmente foi de esquerda) e abandonou as posturas mais esquerdistas de seu tempo de juventude para se transformar em um costumeiro político burguês do Chile. No passado, por exemplo, já chegou a defender abertamente os governos bolivarianos em seu Twitter. Hoje, no entanto, acompanha completamente a cartilha do imperialismo para a América Latina, deixando de lado qualquer referência aos massacres contra líderes sociais e ex-guerrilheiros na Colômbia, mas criticando abertamente a Venezuela pelos supostos abusos aos direitos humanos.

Boric também criticou o governo da Nicarágua e, no conflito entre Rússia e a Ucrânia, se colocou ao lado do imperialismo condenando o malvado governo de Putin e não fazendo uma única crítica à OTAN, ao imperialismo no geral, aos laboratórios de armas biológicas, às sanções criminosas contra o povo russo e a perseguição à população e a cultura do país em todo o mundo.

Sobre o Brasil, desejava uma tímida e quase inaudível “boa sorte” à Lula, o novo mandatário chileno fez questão de salientar que o povo brasileiro escolheu Bolsonaro para governar seu país e por isso respeita o presidente brasileiro, sem ao menos ter consideração pela ex-presidenta Dilma Rousseff que assistia à posse de Boric e que foi deposta no golpe de estado de 2016 que, no fim, acabou por colocar Bolsonaro de maneira completamente ilegítima na presidência do Brasil.

As declarações sobre a América Latina demonstram mesmo o tom do que será este governo. Enquanto critica as “ditaduras” venezuelana e nicaraguense, Boric diz que a eleição de Bolsonaro foi uma escolha que deve ser respeitada no Brasil. Ao mesmo tempo, Boric também declarou que busca uma integração latino-americana, mas que não passe por grupos como os direitistas Prosul e Grupo de Lima, mas também, a Unasul. Todos sabem, entretanto, que os grupos de direita nada mais são do que uma fachada para o controle direto do imperialismo na região, mas que, a Unasul realmente representa uma tentativa, ainda que tímida, de enfrentamento ao imperialismo.

Boric também deixou claras quais são suas intenções em relação à Bolívia, dizendo que pretende aumentar o diálogo com o país vizinho do qual o Chile tomou a saída ao mar na Guerra do Pacífico, no século XIX. No entanto, Boric disse que não negociará a soberania do Chile, o que se pode traduzir por “não daremos um palmo de saída ao mar para que o país mais pobre da América do Sul possa iniciar um processo de desenvolvimento”.

A posição em relação à Bolívia também demonstra, mais uma vez, os estreitos laços entre Boric e o imperialismo. Enquanto o presidente do Peru, Pedro Castillo - que traiu o próprio partido e se afastou do programa que o elegeu e que contava com, dentre outras coisas, uma luta por uma assembleia constituinte e pela nacionalização do gás peruano – sofre com um processo de impeachment baseado na acusação de crime de traição à pátria por ter sugerido  em uma entrevista que poderia dar uma saída ao mar para o povo boliviano, Boric já é mais direto e nem ousa contrariar a cartilha imperialista declarando logo de cara que isso não está em questão.

A oposição entre o que ocorre no Peru e no Chile também demonstram o golpe que a população chilena sofreu nos últimos anos, já que a constituinte extremamente limitada do Chile é vangloriada mundo afora e a luta por uma constituinte peruana é tratada como um golpe contra a democracia.

Sobre os presos políticos, que Boric se negou a apoiar enquanto ainda era deputado permitindo que ficassem na prisão ao votar contra o indulto, o novo governo apoiou uma série de leis que retiram cerca de 150 acusações especiais contra os presos políticos das manifestações de 2019. No entanto, trata-se de mais uma medida de fachada, já que a maioria dos presos nas manifestações não foram presos por essas acusações e sim por acusações de crimes comuns.

Já no que diz respeito à luta dos Mapuche por direito à propriedade de seus territórios ancestrais, o governo Boric prometeu não prorrogar o estado de sítio que termina agora no final do mês nas regiões em que o conflito vinha se desenvolvendo. No entanto, há de se perguntar se realmente o estado de sítio não será prorrogado, além de questionar o motivo que leva o governo a simplesmente não anular o estado de sítio vigente. Tudo bem as forças de repressão matarem os indígenas até o final do mês?

No entanto, apesar de todos esses pontos, o que mais chama a atenção é a questão das mulheres. Dentre todos os 24 ministérios de Boric, 14 serão ocupados por mulheres. É algo a se comemorar. Realmente a posição da mulher na América Latina mudará completamente com isso. A cena da neta de Salvador Allende, Maya Allende, ocupando o cargo de ministra da Defesa e sendo recebida pelas mesmas forças armadas que deram o golpe em seu avô quase 50 anos antes, é realmente algo comovente.

A política de Boric, porém, serve somente para acobertar o quão direitista é o governo. Enquanto diz lutar contra o neoliberalismo, o ministro da Fazenda de Boric será o mesmo Mario Marcel que foi conselheiro do Banco Central do Chile nos governos de Bachelet e Piñera, dentre outros ministros (e ministras, claro) muito direitistas.

A euforia da esquerda pequeno burguesa para com a eleição e a posse de Boric, as declarações de esperança, afeto, amor e outros lindos sentimentos lembram em muito o que ocorreu nas eleições norte-americanas, quando Biden foi eleito. Pelo andar da carruagem, o governo de Boric será assim como o de Biden, um governo do imperialismo norte-americano, mas no Chile.


Um novo golpe em marcha no Peru

Foto: Pedro Castillo/Twitter

Desde que Pedro Castillo assumiu o governo do Peru, há menos de um ano atrás, a única coisa que tem sido constante em sua vida é a turbulência política. O presidente peruano passou de um governante de esquerda, apoiado em seu partido político, Perú Libre, de orientação maoísta, a um presidente de direita, apoiado na esquerda pequeno-burguesa identitária e, agora, tem de voltar a se apoiar no Perú Libre, porém, sem o apoio popular que o partido tem conquistado por conta de sua militância política, para tentar se livrar de um processo de impeachment dos mais antiemocráticos existentes em toda a América Latina.

Na semana passada, 76 congressistas peruanos votaram a favor da abertura do processo de impeachment, sendo que eram necessários 52 votos para que o processo fosse iniciado. A defesa do presidente tem apenas duas semanas para se preparar para a votação derradeira, que acontecerá no dia 28 de março, dia único em que o presidente poderá responder às acusações de corrupção que não passam de declarações de um lobista. 

No final do ano passado, Pedro Castillo já havia sofrido o início de um processo de impeachment, no entanto, o congresso do país não havia conseguido juntar os votos necessários para sua abertura.

Castillo ocupa o cargo de presidente do Peru desde 28 de julho de 2021. Quando eleito, seu governo buscou levar adiante o programa político do Perú Libre, que, dentre outros pontos, prega por uma assembleia constituinte. 

Tanto a assembleia, como o governo de esquerda, formado majoritariamente pelo partido Perú Libre, foram duramente combatidos pela direita e pela extrema direita. O combate diário na imprensa, que também exigia a deposição do primeiro-ministro Guido Bellido (braço direito do líder do Perú Libre, Vladimir Cerrón), principalmente após Bellido ameaçar a nacionalização do gás de Camisea, caso a empresa responsável não aceitasse um plano para baratear o produto para os peruanos, fez com que Castillo não só capitulasse, mas desse ele mesmo um golpe em quem o elegeu. 

Em uma manobra muito parecida com a de Lenín Moreno do Equador, Castillo removeu todos os ministros do Perú Libre e, em seu lugar, colocou ministros da esquerda identitária, principalmente mulheres, os chamados “caviares”, termo muito utilizado pelos militantes do Perú Libre para designar a esquerda pequeno-burguesa.

Com a manobra, Castillo parou de ter o apoio do próprio partido, que não votou a favor da formação do novo ministério e rompeu com o presidente. Há de se dizer, no entanto, que a maioria dos congressistas do partido são da ala esquerda do Perú Libre e não romperam com o programa partidário.

Nas ruas, o Perú Libre continuou a militância pela nova constituinte. Já Pedro Castillo tomou rumos muito mais direitistas, passando a atacar muitas vezes os governos nacionalistas da Venezuela, da Nicarágua e o governo de Cuba, em um claro aceno com a direita.

No entanto, seu governo não conseguiu se firmar como um governo de direita. Castillo teve de trocar novamente de ministérios em fevereiro deste ano e, uma semana após, teve que trocar de novo. Assim como traiu seu partido, Castillo também viu a traição acontecer com aqueles que havia posto em seu governo, com Mirtha Vázquez, primeira-ministra que sucedeu Bellido fazendo declarações contra seu ex-presidente.

O governo se transformou em algo sem apoio algm. No congresso, não há apoio. Dentre a população, não há apoio de nenhum setor, já que seu giro à direita não conseguiu atingir a popularidade da extrema direita do fujimorismo, assim saiu da zona de alcance do outro pólo, o do Perú Libre.

No entanto, o Perú Libre se coloca contra o golpe em Pedro Castillo, já que, segundo palavras de Vladimir Cerrón “o governo é de direita, mas temos que fazer valer a escolha da população”.

Vendo-se neste imbróglio, Castillo tentou dar declarações de cunho mais esquerdista, dizendo que poderia destinar uma porção de terra para que a Bolívia tivesse, finalmente, uma saída ao mar. No entanto, a tentativa de resgatar a popularidade no meio da esquerda não funcionou e a direita usou a declaração para acelerar o processo de impeachment e o acusar de cometer “crime contra a pátria”.

A situação peruana consegue mostrar duas coisas importantes para a América Latina. A primeira delas, é a de que a etapa de golpes de estado por parte do imperialismo ainda não passou. A segunda, de igual importância, é a de que a esquerda pequeno-burguesa identitária cumpre um papel importantíssimo de apoio ao imperialismo na região, lutando contra a população e seus direitos.


domingo, 27 de março de 2022

Militantes de Araraquara se engajam na criação de Comitês de Luta



Militantes e ativistas de esquerda em Araraquara iniciaram um amplo engajamento na criação de Comitês de Luta. Neste sábado, teve início o Comitê de Luta Campus Ville, com a entrega de panfletos e conversas com os moradores do bairro que se localiza logo abaixo ao campus da UNESP na cidade.

Também foi criado o Comitê "Esperança & Luta" do bairro Vila Sedenho, que em breve contará com atividades de agitação e de estudos sobre a atividade política.

Além dos dois comitês, a plataforma do PT "Casa 13", que tem registrado os Comitês Populares de Luta do partido, conta com outros 4 comitês. 


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Comitê "Esperança & Luta" do bairro Vila Sedenho - Araraquara.

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