quinta-feira, 28 de maio de 2020

Estudos sobre o Capital Volume I — nº 2

image.png

2.O duplo caráter do trabalho representado nas mercadorias


Marx aborda, nesse item, em primeiro lugar, a transformação na divisão social do trabalho operada pelo capitalismo. O trabalho sempre foi dividido, nas sociedades humanas, socialmente. Contudo, no capitalismo, essa divisão adquire um caráter mais específico: a divisão social do trabalho útil. 

Trabalho útil é o trabalho dedicado à produção de algo que possua valor de uso. Ou seja, não é qualquer trabalho que é útil, apenas aquele destinado à produção da mercadoria. Ademais, para que haja o processo de troca, o trabalho útil precisa ser dividido socialmente: as mercadorias produzidas devem ser diferentes, umas das outras, e, daí, terem trabalhos diferentes para suas produções. Esse trabalho útil é dividido socialmente.

Agora, cabe abordar o famoso exemplo sempre utilizado pela direita para "refutar" O Capital. Um buraco cavado no chão, por ser resultado do trabalho humano, teria valor? Não, a não ser que esse buraco tenha algum valor de uso, que possa ser inserido de alguma forma no mercado.

Marx explica como o trabalho, que atribui valor à mercadoria, nada mais é que a transformação de elementos da natureza - como o linho, em objetos com valor de uso - como o casaco. O elemento da natureza, por si só, não tem valor, pois o valor é apenas o trabalho dedicado à transformação daquele elemento em mercadoria. Tal é a natureza do valor, a medida do valor: a quantidade de trabalho humano dedicado à produção.

Mas qual trabalho? 

Voltemos ao exemplo do buraco no chão. Uma escavadeira é capaz de cavar tal buraco, por exemplo, em 10 minutos. E uma pessoa com uma pá, em 10 dias. Tais buracos no chão, teriam, portanto, valores diferentes? É certo que não. Entram, aqui, os conceitos de trabalho concreto - o trabalho dedicado, de fato a uma produção específica e individualizada; e trabalho abstrato: a média do menor tempo de trabalho necessário considerando-se todo o contexto social e econômico do local ou da sociedade em que se insere. Portanto, não importa se uma pessoa demora 10 dias para cavar um buraco com uma pá, se é possível o uso da escavadeira em 10 minutos, o valor desse buraco será o valor correspondente a 10 minutos.

Ou seja, o que Marx expõe, aqui, é que o trabalho que importa para se dimensionar o  valor da mercadoria é o trabalho abstrato, objetivamente considerado. O trabalho concreto é individual, é subjetivo, e não define valor algum por si só.

Isso também implica na consequente diminuição geral do valor das mercadorias com o avanço das forças produtivas, mesmo se grande parte dos produtores não tiverem como se beneficiar desse avanço. 

(Karl Marx, p. 119 - 124, da edição da boitempo do Capital, 2016).
(Karl Marx, p. 165 - 172, O Capital Volume 1, Boitempo, disponível em: http://www.gepec.ufscar.br/publicacoes/livros-e-colecoes/marx-e-engels/o-capital-livro-1.pdf/at_download/file, 2007).


Colabore com nossa imprensa operária, assine o Farol Operário: https://apoia.se/faroloperario
Se não puder colaborar, compartilhe nosso trabalho, isso dá amplitude às nossas denúncias e tem grande valor para nós.
Acompanhe nossas redes: https://www.facebook.com/faroloperario
Instagram: @farol.operario

terça-feira, 26 de maio de 2020

Repressão: enfermeiros e médicos são presos no Rio de Janeiro por protestarem


image.png
Não é de hoje que este periódico vem denunciando as medidas repressivas, ditatoriais que o governo está fazendo uso para calar a população em meio a crise da pandemia do coronavírus. Enquanto que a esquerda enxerga de maneira estreita as táticas de luta, judicializando e impedindo as carreatas dos fascistas do Bolsonaro, a população que luta por mais leitos, equipamentos de proteção e pelo Fora Bolsonaro está sendo presa.


No último sábado (23), profissionais da saúde realizaram um protesto de 15 minutos no pedágio da Linha Amarela, zona norte da cidade do Rio de Janeiro. Com distanciamento e usando máscaras, traziam nas suas faixas os dizeres "Fora Bolsonaro", "Quarentena geral para não adoecer", "Renda mínima para sobreviver", "Leitos para todos para não morrer".

Quando já estavam guardando as faixas, foram abordados por policiais que estavam agindo segundo ordens de um comandante do batalhão. Por fim, foram conduzidos ao 26º DP e foi autuada a Maria Lúcia Pádua, da Federação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores em Saúde, bem como Carlos Vasconcellos, do Sindicato dos Médicos do Rio.

Em gravação de vídeo em frente à delegacia, Maria Lúcia Pádua, diz indignada:
"É surpreendente que no mundo inteiro trabalhadores da saúde são aplaudidos e aqui no Brasil somos presos"

"Ficamos muito indignados. O governo permite aglomerações nas ruas, o transporte público está lotado, há fábricas funcionando, a orla está cheia, mas eles impedem um protesto de profissionais da saúde pedindo medidas contra a pandemia. Eles não estão preocupados em evitar aglomeração, e sim em intimidar", diz o médico Gustavo Treistman.

Para se ter uma dimensão do problema, até quarta-feira (20), morreram 137 enfermeiros pelo COVID-19 e, segundo dados do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), há 15 mil enfermeiros infectados pelo vírus. Até quinta-feira (21), morreram 113 médicos, quase 2 mortes desses profissionais por dia.
Os profissionais da saúde estão saindo às ruas para reivindicar condições de trabalho seguras e por mais equipamentos e leitos, já que os hospitais não estão conseguindo suportar o grande número de suspeitos e infectados para o tratamento. Hoje o Brasil é o segundo país do mundo com mais mortes devido à inação dos governantes: 22.965; fora os 367 mil casos confirmados de infecção.

Por isso, não se pode barganhar a liberdade de manifestação do trabalhador, e suas organizações que estão lutando contra o descaso do governo nas três esferas. O que essas leis repressivas de quarentena e "lockdown" querem é que a população e os profissionais da saúde continuem morrendo e não haja denúncia a respeito disso.

É preciso abrir os olhos e analisar qual é o problema real: uma política de quarentena que deixa o povo passando fome, desempregado é uma política ineficiente, porque somente alguns, os mais abastados, ficam em quarentena enquanto que a população em geral tem que trabalhar para sobreviver. Ou a quarentena é total, e para isso o governo tem que enviar recursos direto aos trabalhadores e às pequenas empresas para que não haja demissões; ou que haja revogação dessas normas que restrinjam o direito da população se organizar para lutar pela sua sobrevivência.

Importa notar e exaltar que o protesto desses profissionais foram altamente politizantes. Por pedir o "Fora Bolsonaro", sinaliza que o governo não está nem aí para a saúde da população, senão tão somente para a saúde dos bancos e da família do próprio presidente; por pedir a renda mínima, estão indicando que a quarentena total e eficaz só existe quando toda a população consiga ficar em casa sobrevivendo dignamente até a redução do número de infectados. Esse setor está mostrando o que deve ser feito: organizar os profissionais da saúde e todos os trabalhadores para reivindicar uma quarentena para todos, por mais leitos e equipamentos médicos e de proteção, e pelo Fora Bolsonaro. A esquerda amante das cadeias e a repressão precisa parar de conter o movimento reivindicatório e atuar organizando a luta.

Colabore com nossa imprensa operária, assine o Farol Operário: https://apoia.se/faroloperario
Se não puder colaborar, compartilhe nosso trabalho, isso dá amplitude às nossas denúncias e tem grande valor para nós.
Acompanhe nossas redes: https://www.facebook.com/faroloperarioInstagram: @farol.operario

segunda-feira, 25 de maio de 2020

Editorial 25/05/2020 A polarização política e a Frente Ampla


image.png
Mais um ato Fora Bolsonaro na semana passada: ato simbólico na manhã de quinta-feira, 21 de maio, em frente à Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc).
A política no Brasil está sendo cada vez mais polarizada por causa da crise sanitária, colocando o país em uma espiral de acirramento político entre todos os campos. A direita golpista luta contra os bolsonarista em questões como a Cloroquina e a abertura das atividades, já a esquerda, de modo totalmente desorganizado, está indo para as ruas se contrapor aos bolsonaristas nos atos que fazem em favor da implantação de uma Ditadura Militar. 

A imprensa burguesa apresenta apenas parte dos conflitos, buscando deslegitimar os bolsonaristas com a velha alcunha de loucos e fanáticos. Assim, no imaginário político atual, criam-se falsa querelas como a questão do armamento. Toda esta confusão política se faz em um momento em que a falta de perspectiva política da esquerda e suas organizações deixou-os a reboque da campanha #Ficaemcasa, o que imobilizou a reação popular. Deste modo, os bolsonaristas fazem grande avanço ao se utilizar do ódio popular contra as proeminentes figuras do golpe como o governador de São Paulo, João Dória (PSDB), manipulam toda a ira gerada pelo desrespeito aos direitos democráticos. 

Na falsa versão televisiva, uns loucos gananciosos se comprometem com o governo, enquanto nos meios de comunicação que os bolsonaristas estão construindo (You Tube, mensagens de Whatsapp, antiga postura da Band, Record), posam de defensores do povo contra a tirania imposta nesta quarentena. O povo, deixado a própria sorte pela esquerda, fica entre ambas as versões, sem perceber que os bolsonaristas são uma das facetas do golpe. A política golpista de entrega e destruição da economia nacional, tanto dos governadores quanto de Bolsonaro são as mesmas, todos estiveram unidos para aplicar a Reforma da Previdência e o rígido controle fiscal. Do mesmo modo, ambos respondem aos patrões e não estão minimamente preocupados com a saúde das pessoas. Apesar disto, é necessário arranjar um bode expiatório para a fenomenal crise que se avizinha. 
image.png
Estação de metrô e trem de São Paulo.
image.png
Realidade brasileira: enquanto uma elite fica em casa, a população está trabalhando, pegando condução coletiva, expondo-se ao risco.

A direita golpista, com todo o seu aparato midiático, criou o clima para uma saída controlada da futura crise através de uma Frente Ampla. Assim, vários setores direitistas no passado estão recebendo destaque para apresentar a substituição de Bolsonaro, sendo o Roda Viva um dos programas que mais está se prestando ao papel de reciclagem política. O que mais se destaca em toda essa nova demagogia não é só o falso arrependimento dos coxinhas, mas as explícitas colocações contra Lula, mostrando que a real intenção política desta manobra é diminuir os ânimos e frear a polarização. 

image.png
Youtuber Felipe Neto.
Ao mesmo tempo, os bolsonaristas se lançam a campo para aprofundar sua política, reunindo mais pessoas nos atos intervencionistas e colocando demagogicamente o Fora Dória, uma jogada política muito astuta para dar ares de legitimidade aproveitando o tremendo ódio que os paulistas têm do PSDB. Apesar da genialidade, só um analfabeto político seria capaz de acreditar na seriedade desta pressão, pois Dória ou BolsoDória durante as eleições, é tão autoritário e lacaio do imperialismo quanto Bolsonaro. 

Os atos intervencionistas realizados no país, que inicialmente se favoreceram da paralisia da esquerda, agora começam a encontrar resistência dos setores menos ligados a esquerda institucional. Já é o terceiro final de semana que ocorrem confrontações entre manifestações intervencionistas e antifascistas, isso em um ambiente em que começam a surgir atos públicos pelo Fora Bolsonaro levado adiante não pela Frente Ampla, mas por setores realmente combativos como as torcidas organizadas, os comitês de luta contra o golpe e o PCO (Partido da Causa Operária), conselhos populares e por sindicatos de profissionais da saúde. Agora, é preciso sair da paralisia, criar comitês em todos os locais e levar a manifestação de revolta organizadamente para a rua, local de luta da esquerda em que os oportunistas são apagados pela força da movimentação popular. 

image.png
Ato "Fora Bolsonaro" na Praça dos Três Poderes
Sair às ruas, 
Criar comitês populares pelo Fora Bolsonaro

Governo Boric será de direita besuntado em um esquerdismo de fachada

No dia 11 o novo presidente do Chile tomou posse, após 4 anos de governo do direitista Sebastián Piñera. A imprensa internacional deu muito ...