quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Eleições nos EUA (1): o que representa Joe Biden

 


Desde que foi anunciado os candidatos para a disputa presidencial dos Estados Unidos muito tem se dito, inclusive por diversos setores da esquerda, sobre a necessidade de se eleger o candidato democrata Joe Biden. Biden é apresentado como defensor da democracia e representante dos direitos das minorias. A imprensa brasileira não se cansa de mostrar e elogiar Biden fazendo oposição ao “rude” e “anti-democrático” Donald Trump. Biden foi vice-presidente de Barack Obama e como ele mesmo diz nenhum afrodescendente nos EUA deveria votar em alguém a não ser ele mesmo. Sua candidata à vice-presidente é Kamala Harris, senadora pelo estado mais progressista do país, a Califórnia. Ela é uma figura muito cativante e carismática, quase que uma estrela de Hollywood ou um Obama em versão feminina.  Isso não é o suficiente e faz-se necessário melhor compreender o que representa a candidatura de Joe Biden.

Entre os políticos dos Estados Unidos, Biden é considerado um dos maiores, se não o maior, especialista em relações internacionais e política externa. Entre 2001 e 2009, período que ocorreu o 11 de setembro e as invasões ao Afeganistão e ao Iraque, Biden presidiu a Comissão de Relações Exteriores do Senado três vezes. Biden foi o mais importante patrocinador do USA Patriot Act, decreto que aumentou a vigilância e restringiu direitos civis dos cidadãos estadunidenses. O Patriot Act estava redigido antes do 11 de Setembro. Na realidade foi uma ideia de membros do Partido Democrata no fim dos anos 1990.

Biden, como um representante no imperialismo estadunidense da ala do imperialistas humanitários, é ao menos no Senado e no Congresso dos EUA considerado o maior especialista em política externa. As divergências existentes por pelo menos 20 anos dentro do imperialismo estadunidense entre neocons e imperialistas humanitários esteve sendo substituído por uma forte convergência desde os governos W. Bush e Obama. A união desses dois setores imperialistas se concretizou diante da “ameaça” de Trump. A família Bush, membros do Partido Republicano, tem declarado apoio à Biden. Colin Powell, Secretário de Estado republicano durante o início das invasões ao Afeganistão e ao Iraque, tem realizado campanhas públicas em favor do candidato democrata às presidência dos EUA. 

George W. Bush teria sido um presidente fantoche e se quer é possível dizer que era mal intencionado em suas ações como Presidente. Em seu governo garantiu uma importante independência aos países latino-americanos que vivenciaram uma importante ascensão de governos esquerda que em certa medida puderam governar com independência e melhorar o bem-estar e a prosperidade do povo de suas nações. George W. Bush estimulou Nestor Kirchner, então presidente da Argentina a não cumprir compromissos da dívida externa argentina em detrimento do bem estar de seu povo. 

No entanto, W. Bush esteve todo o tempo cercado direta ou indiretamente de imperialistas muito experientes em seu governo. Dentre eles ali estavam seu próprio pai e ex-diretor geral da CIA e ex-presidente dos EUA durante a Guerra do Golfo: George Herbert Bush. Além de Bush pai exerciam forte ingerência ao governo neocons experientes como Paul Wolfowitz, Donald Rumsfeld e Dick Cheney. Cheney, na condição de vice-presidente foi a figura mais importante do modelo imperialismo estadunidense que se estabeleceu nos EUA à época, realizando um governo subterrâneo e paralelo. Isso fez com que se cunhasse o termo Regime Cheney e que os neocons produzissem o que ficou conhecido como “Projeto para o Novo Século Americano”. 

O governo Obama, sobretudo por influência de Hillary Clinton tratou-se de uma continuidade do governo W. Bush no quesito política externa, o que faz com que pelo menos nesse tema neocons e imperialistas humanitários estejam em comum acordo. Biden fez parte ativamente das políticas imperialistas de Obama que foram marcadas por intromissões em todas as partes do mundo. As estratégias utilizadas na época trataram-se de operações psicológicas, revoluções coloridas, apoio à golpes de Estado, grampos e interceptação de telefonemas, e-mails e banco de dados governamentais, sete guerras quentes declaradas e o Kill List. 

Hoje um futuro gabinete, o equivalente aos ministros, de um futuro governo Biden tem sido organizado tanto por imperialistas humanitários como por neocons.  O democrata Tony Blinken, ex-secretário de Estado do governo Obama, imperialista humanitário e membro do “Partido da Guerra”, é uma das principais lideranças na organização de um futuro gabinete no governo Biden. Representando membros do Partido Republicano estão participando da formação do futuro gabinete do governo Biden neocons como Bill Kristol e Robert Kagan.

Com isso devemos ir além das aparências de vovô bonzinho de Biden que tem com uma candidata a vice-presidente belíssima e sorridente que mais parece com uma estrela de Hollywood. O democrata Joe Biden trata-se do candidato da guerra, da espoliação estrangeira e do imperialismo.


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