domingo, 26 de julho de 2020

A nação brasileira sob ataque de uma guerra híbrida

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A partir do ano de 2003, com o início do governo Lula o povo brasileiro vivia uma onda de esperança associada as melhorias das condições internas e do protagonismo do país no âmbito internacional. Naquele momento o Brasil se associava ao BRICS, parceria estratégica de nações emergentes do terceiro mundo. Após 8 anos de governo Lula, em 2011 inicia o governo de Dilma Roussef e a vice presidência da república que antes era exercida por José Alencar, um industrial do estado de Minas Gerais, passa a ser exercida por Michel Temer, um político conhecido menos pelos seus votos e mais por articulações e negociações indecorosas. Temer era de São Paulo, centro financeiro e símbolo do capital especulativo do Brasil e de toda a América Latina.

A partir de então o que se vê é uma sucessão de eventos marcados por um forte protagonismo dos aparatos policial e judicial, críticas ininterruptas ao governo dos canais de comunicação hegemônicos e estranhas manifestações nunca antes vistas e cujo epicentro foi São Paulo. Tudo isso levou a uma crise política e econômica que criou condições materiais a um golpe que ainda permanece em curso e que coloca o Brasil enquanto nação e o povo brasileiro em condições cada vez mais degradantes de vida e de sociabilidade. Cabe desvendar o quanto esse processo é resultado de uma articulação de setores da elite interna e o quanto é consequência de ações internacionais. Nesse contexto recebe destaque o conceito de guerra híbrida.

A guerra híbrida remete à guerra em uma de seus estados mais perspicaz e profundo, já que não implica em conflitos bélicos diretos. Não há declaração de guerra, soldados, tanques, operações militares ou disparos de armas ou explosões de bombas. Ao contrário, o que se vê é o uso constante de informação e inteligência, estratégias de comunicação, sabotagens, gestação de crises e a legitimação de governos paralelos. Em 2009 Honduras e em 2012 o Paraguai foram vítimas de um golpe. Nos últimos vinte anos a Venezuela tem sido vítima constante de ações imperialistas. Recebe destaque o quanto esses exemplos obedecem um padrão e uma dada racionalidade que também tem se reproduzido em outros pontos do globo terrestre e em especial no Brasil.

Um dos elementos fundamentais de uma guerra é a imposição de condição de derrota à determinado um povo, fazendo com que esse não tenha condições de articular qualquer medida conjunta que leve ao exaltação de sua sociedade e nação. Aos vencedores cabe o direito de determinação do futuro dos derrotados. Essa lógica também se aplica às guerras híbridas e por isso elas se caracterizam também como guerra e não como algo diferente disso. O caráter híbrido dá-se pelo uso de estratégias das mais variadas como as revoluções coloridas, golpes de estado, troca de regimes políticos, controle mental e promoção de crises econômicas, dentre outros. Assim a guerra recebe um forte valor simbólico que destrói elementos conceituais de uma nação. Com isso a guerra híbrida se caracteriza como uma guerra de sentidos.

Em 2001, os Estados Unidos lançou a doutrina de guerra preventiva, estabelecendo que caberia um ataque preventivo como advertência a ameaças, ainda que essas possíveis ameaças não tenham evidências ou concretude real. A partir desta doutrina, por exemplo, que os Estados Unidos iniciou um ataque ao Iraque em 2003, estabelecendo vínculos nunca comprovados de associação entre o regime de Saddam Hussein e os eventos de 11 de setembro. Na perspectiva da doutrina de guerra preventiva qualquer nação, povo, grupo ou regime político pode ser tratado como inimigo em potencial, sendo alvo de ataques e eliminação.

No governo de Barack Obama, em outubro de 2014, os Estados Unidos anunciou um novo conceito operativo militar para o período de 2020 a 2040 chamado: Win in a complex World (Vitória em um Mundo complexo). Este conceito militar estabelece uma ideia de guerra permanente e impossibilidade a distinção entre momentos de guerra e paz, na medida em que subverte a ideia de um campo de batalha como um espaço físico onde diferentes exércitos se confrontam a fim de ocupar territórios. Ataques passam a ser imprevisíveis e até mesmo invisíveis, gerando um ambiente nebuloso que impossibilita a defesa daqueles são atacados. Esta nova estratégia militar gera uma guerra difusa, porém em alguns casos pode ter contornos mais claros, como, por exemplo, com a criação de agrupamentos paramilitares para desestabilização de regimes em Kosovo ou na Ucrânia. Este mesmo movimento é possível ser observado nas ações do Estado Islâmico do Iraque e da Síria (ISIS), o qual sempre contou com financiamentos, aparatos e contingentes oriundos do ocidente.
A nação brasileira precisa compreender a guerra hibrida para poder enxergar aspectos de sua crise que vão além da vontade de uma elite local. Para isso é necessário reconhecer que o Brasil não está isolado de um conjunto de ações que acontecem em nível global e que objetivam obstruir qualquer iniciativa política autônoma que se distanciam de interesses representados na figura dos Estados Unidos.

Nesses termos, cabe a nação brasileira aceitar que os fatos recentes não resultam de processos espontâneas e que pertencem a uma agenda internacional que nos coloca em condição de vítimas de um ataque estrangeiro e que gera a necessidade de construção de uma estratégia de defesa.

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