A esquerda está se concentrando para participar do processo eleitoral de 2020, lançando-se em uma campanha frenética pela disputa dos votos da população. Por isso, toda a luta que havia sido travada contra o governo Bolsonaro pelas torcidas organizadas foi deixada de lado em prol da propaganda individual de cada candidato. O que parecia ser um movimento de massas com grande força e popularidade se desfez, não por causa do ânimo popular, mas por causa desta condução.
Neste momento, as articulações políticas estão sendo feitas e já podemos ver que todos os partidos de esquerda, com exceção do Partido da Causa Operária (PCO), irão para o pleito sem uma postura consciente dos reais problemas das manipulações e domínios dos golpistas sobre a máquina eleitoral. Ao que tudo indica, a eleição não será disputada nas ruas por medo e servilismo da esquerda, colocando a direita em total domínio da situação. As imposições tirânicas, sob o pretexto de cuidado a saúde, deveriam ser combatidas e denunciadas como uma restrição grave contra os direitos democráticos: não há pretexto para censura (das supostas "fake news"), restrição de movimentação ou impossibilidade de reunião.
Os partidos não poderão fazer comícios, nem atos durante o período eleitoral, o que inviabiliza a campanha de rua. Mesmo assim, os transportes públicos como metrô e ônibus vão abarrotados, o que deixa claro o caráter político desta restrição. Mesmo assim, parte significativa da esquerda continua reproduzindo a política do #Fique em Casa, considerando que a internet será um campo neutro em ela dependerá apenas do seu próprio esforço para levar adiante sua luta política. Esta concepção é uma ilusão forte, que se escora nos privilégios de parte diminuta e moderada da esquerda que conseguiu algum cargo dentro do sistema e, por isso, segue docilmente todos os ditames dos poderosos.
A conclusão política que deve ser retirada é que o ânimo de lutar contra o golpe, tão vivaz nas torcidas organizadas no começo do ano, se desfez temporariamente por causa da disputa eleitoral. Apesar disto, o golpe vai enfrentar uma série de crises e haverá outras oportunidades em que a luta real, de massas e nas ruas, será retomada: ela é permanente, tem períodos "quentes" e períodos "frios". Enquanto isso, veremos uma eleição cheia de devaneios, propostas de lunáticos e demagogia, tudo com frases de efeito como as grandes bravatas sempre aparecem.