terça-feira, 29 de março de 2022

Um novo golpe em marcha no Peru

Foto: Pedro Castillo/Twitter

Desde que Pedro Castillo assumiu o governo do Peru, há menos de um ano atrás, a única coisa que tem sido constante em sua vida é a turbulência política. O presidente peruano passou de um governante de esquerda, apoiado em seu partido político, Perú Libre, de orientação maoísta, a um presidente de direita, apoiado na esquerda pequeno-burguesa identitária e, agora, tem de voltar a se apoiar no Perú Libre, porém, sem o apoio popular que o partido tem conquistado por conta de sua militância política, para tentar se livrar de um processo de impeachment dos mais antiemocráticos existentes em toda a América Latina.

Na semana passada, 76 congressistas peruanos votaram a favor da abertura do processo de impeachment, sendo que eram necessários 52 votos para que o processo fosse iniciado. A defesa do presidente tem apenas duas semanas para se preparar para a votação derradeira, que acontecerá no dia 28 de março, dia único em que o presidente poderá responder às acusações de corrupção que não passam de declarações de um lobista. 

No final do ano passado, Pedro Castillo já havia sofrido o início de um processo de impeachment, no entanto, o congresso do país não havia conseguido juntar os votos necessários para sua abertura.

Castillo ocupa o cargo de presidente do Peru desde 28 de julho de 2021. Quando eleito, seu governo buscou levar adiante o programa político do Perú Libre, que, dentre outros pontos, prega por uma assembleia constituinte. 

Tanto a assembleia, como o governo de esquerda, formado majoritariamente pelo partido Perú Libre, foram duramente combatidos pela direita e pela extrema direita. O combate diário na imprensa, que também exigia a deposição do primeiro-ministro Guido Bellido (braço direito do líder do Perú Libre, Vladimir Cerrón), principalmente após Bellido ameaçar a nacionalização do gás de Camisea, caso a empresa responsável não aceitasse um plano para baratear o produto para os peruanos, fez com que Castillo não só capitulasse, mas desse ele mesmo um golpe em quem o elegeu. 

Em uma manobra muito parecida com a de Lenín Moreno do Equador, Castillo removeu todos os ministros do Perú Libre e, em seu lugar, colocou ministros da esquerda identitária, principalmente mulheres, os chamados “caviares”, termo muito utilizado pelos militantes do Perú Libre para designar a esquerda pequeno-burguesa.

Com a manobra, Castillo parou de ter o apoio do próprio partido, que não votou a favor da formação do novo ministério e rompeu com o presidente. Há de se dizer, no entanto, que a maioria dos congressistas do partido são da ala esquerda do Perú Libre e não romperam com o programa partidário.

Nas ruas, o Perú Libre continuou a militância pela nova constituinte. Já Pedro Castillo tomou rumos muito mais direitistas, passando a atacar muitas vezes os governos nacionalistas da Venezuela, da Nicarágua e o governo de Cuba, em um claro aceno com a direita.

No entanto, seu governo não conseguiu se firmar como um governo de direita. Castillo teve de trocar novamente de ministérios em fevereiro deste ano e, uma semana após, teve que trocar de novo. Assim como traiu seu partido, Castillo também viu a traição acontecer com aqueles que havia posto em seu governo, com Mirtha Vázquez, primeira-ministra que sucedeu Bellido fazendo declarações contra seu ex-presidente.

O governo se transformou em algo sem apoio algm. No congresso, não há apoio. Dentre a população, não há apoio de nenhum setor, já que seu giro à direita não conseguiu atingir a popularidade da extrema direita do fujimorismo, assim saiu da zona de alcance do outro pólo, o do Perú Libre.

No entanto, o Perú Libre se coloca contra o golpe em Pedro Castillo, já que, segundo palavras de Vladimir Cerrón “o governo é de direita, mas temos que fazer valer a escolha da população”.

Vendo-se neste imbróglio, Castillo tentou dar declarações de cunho mais esquerdista, dizendo que poderia destinar uma porção de terra para que a Bolívia tivesse, finalmente, uma saída ao mar. No entanto, a tentativa de resgatar a popularidade no meio da esquerda não funcionou e a direita usou a declaração para acelerar o processo de impeachment e o acusar de cometer “crime contra a pátria”.

A situação peruana consegue mostrar duas coisas importantes para a América Latina. A primeira delas, é a de que a etapa de golpes de estado por parte do imperialismo ainda não passou. A segunda, de igual importância, é a de que a esquerda pequeno-burguesa identitária cumpre um papel importantíssimo de apoio ao imperialismo na região, lutando contra a população e seus direitos.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Governo Boric será de direita besuntado em um esquerdismo de fachada

No dia 11 o novo presidente do Chile tomou posse, após 4 anos de governo do direitista Sebastián Piñera. A imprensa internacional deu muito ...