sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Eleições nos EUA (7): Um terço da equipe de transição de Biden pertence ao complexo industrial militar


Em meio às comemorações da esquerda na esperança de que dias melhores virão, Joe Biden tem anunciado sua equipe de transição. O que assusta é que em torno de um terço desses nomes provém do complexo industrial militar ou são figuras bastante conhecidas em guerras. Isso faz crer que o governo Biden terá uma forte tendência belicista e os dias que virão não serão nada fáceis para o mundo e para a América Latina.


Muitas das figuras da equipe de transição de Biden vêm de think tanks militares como o Center for Strategic and international ‎Studies (CSIS), o Center for a New American Security (CNAS) e a Rand Corporation. Outros provém das quatro maiores fabricantes de armas do mundo: General Dynamics, Raytheon, Nortrop Grumman e Lockheed Martin.


Cabe destacar que ainda que Donald Trump se apresente como uma figura esdrúxula, tenha impulsionado uma onda neoconservadora no mundo e sirva como apoio para Jair Bolsonaro, o dirigente que deve deixar a Casa Branca no início de 2021 teve a marca de ser o primeiro Presidente dos EUA a não iniciar uma guerra declarada nos últimos 30 anos. Desde o governo de Ronald Reagan, os EUA tem realizado interruptamente ataques e invasões estrangeiras. Durante os quatro anos de governo Trump essa lógica foi interrompida.

Biden nomeou um conjunto de especialistas em guerra, muitos dos quais provenientes do governo Obama, como responsáveis pela elaboração da agenda de seu governo. 


Entre eles encontra-se Lisa Sawyer que deve compor o Departamento de Defesa. Sawyer foi diretora de assuntos estratégicos da OTAN, membro do Conselho de Segurança Nacional e consultora de política externa da JPMorgan Chase. No Center for a New American Security ajudou a formular os métodos de guerra econômica dos EUA para desestabilização de países. Publicamente ela defende o aumento de tropas na Europa e o envio de armas à Ucrânia como forma de se opor às “agressões” russas. Diante do comitê do Senado que supervisiona às Forças Armadas dos EUA, Sawyer disse em 2017 que: “Em vez de se curvar às lanças de influência russas, forneça à Ucrânia ajuda letal que necessita e aumente o apoio dos EUA às nações vulneráveis da região”. 


Outra figura que compõe a equipe de transição de Biden é Linda Thomas-Greenfield. Thomas-Greenfield é muito próxima a ex-conselheira de Segurança Nacional dos EUA responsável pela guerra na Líbia, Susan Rice. Rice ainda possui no currículo a invasão ao Iraque em 2003 e a retirada das tropas da ONU que permitiram o genocídio de Ruanda em 1994. Thomas-Greenfield foi uma das principais apoiadora da política neocolonial de Bush que viabilizou maior exploração aos países africanos conhecida como Millennium Challenge Account. Antes trabalhou na empresa de lobby da indústria militar da ex-Secretaria de Estado Madeleine Albright, a Albright Stonebridge Group. Entre os clientes da Albright Stonebridge Group está a empresa de investimentos de Paul Singer. Singer ficou conhecido por comprar os títulos abutres argentinos e depois processar o país. A Presidente argentina acusou Singer de ter a ameaçado com financiamentos aos seus opositores caso sua vontade não fosse cumprida nas renegociações da dívida externa argentina.


Mais um nome conhecido é o de Dana Stroul, professora do neoconservador Washington Institute for Near East Policy que possui fortes ligações com a organização sionista American Israel Public Affairs Committee (AIPAC). Stroul tem tralhado já a um tempo com políticos democratas, sobretudo ajudando com consultorias sobre a guerra suja na Síria. Ela chegou a recomendar que os EUA deveriam manter uma ocupação militar em um terço do país, no caso a parte mais rica em recursos. Também defende a imposição de novas sanções econômicas à Síria e o não envolvimento dos EUA na reconstrução do país. 


Farroq Mitha, que trabalhou no Pentágono durante o governo Obama contribuindo para o fortalecimento do lobby israelense e participante das conferências da AIPAC também se faz presente da equipe de transição de Biden. 


Agora o que parece mais assombroso é o número de membros do novo governo Biden que apoiam a anos a mudança de regime na Venezuela. Dentre eles encontram-se Paula García Tufro, que foi membro do Conselho de Segurança Nacional durante o governo Obama. Tufro apoiou as declarações de Obama de que a Venezuela representava uma ameaça à segurança dos EUA e ainda atuou junto a grupos de apoio do líder golpista venezuelano Juan Guaido sitiados em Washington D.C.


Kelly Magsamen foi vice-presidente do Center for American Progress e já trabalhou no Pentágono e no Departamento de Estado. Magsamen afirmou que Elliott Abrams é um defensor ferrenho dos direitos humanos. Abrams foi responsável por esquadrões de morte na América Central na década de 1980, sendo o enviado especial dos EUA na Venezuela em 2019. Roberta Jacobson trabalhou na empresa Albright Stonebridge Group e foi embaixadora dos EUA no México. Jacobson ajudou a conceber a designação do governo Obama que determinou a Venezuela como uma ameaça à segurança nacional dos EUA. Tanto Magsamen como Jacobson estão na equipe de transição de Biden.


Além das figuras apresentadas existem tantas outras que compõem a equipe de transição de Joe Biden. Entre elas Derek Chollet e Ellison Laskowski, altos funcionários do German Marshall Fund e lobistas de ações militares contra a Rússia; Greg Vogle, ex-chefe da estação da CIA no Afeganistão e acusado de cometer crimes de guerra; Marty Lederman, professor de direito que redigiu a base legal para uso de drones para extermínio de pessoas sem julgamento; Barbara McQuade, procuradora responsável pela deportação do ativista antiguerra palestino estadunidense Rasmea Odeh para ser torturado pelas forças israelenses; Neil MacBride, procurador que promoveu a Lei de Espionagem no governo Obama; 


Diante do passado dos membros da equipe de transição de Joe Biden, conclui-se que caso sejam incorporados ao governo presenciaremos para os próximos 4 anos restrições de direitos civis dentro dos EUA e guerras sujas nos países estrangeiros.

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