sábado, 2 de janeiro de 2021

Notícias do mundo: Saara Ocidental e Marrocos – interesses imperialistas em torno de uma guerra desleal

O conflito entre o Saara Ocidental e o Marrocos não recebe destaque da imprensa. Muitas pessoas se quer sabem que esse conflito existe e quando descobrem imaginam tratar de mais uma guerra localizada na África. No entanto, essa guerra camufla interesses geopolíticos muito claros do imperialismo. Nesse caso o representante imperialista regional é o Marrocos, uma monarquia cujo Rei, Mohammed VI, é apresentado como uma figura moderna, ocidentalizada e defensor da democracia. Mohamed VI sempre é fotografado usando roupas descoladas e em férias por revistas de fofoca. Além disso, essa figura costuma ter uma agende bastante cheia de compromissos com líderes políticos ocidentais vinculados ao imperialismo.

Em outubro de 2020 o movimento político revolucionário Frente Polisário bloqueou o acesso do Marrocos a uma vila chamada Guergerat no sul do Saara Ocidental e que dá acesso a Mauritânia. O Marrocos enviou uma tropa para garantir a reabertura da fronteira e sucedeu uma troca de tiros. Esse evento fez surgir a possibilidade de uma guerra regional com forte influência de interesses imperialistas.

O Saara Ocidental foi uma colônia espanhola por séculos. Em meio à crise do franquismo, na década de 1970 deixa de ser uma colônia espanhola e passa ser objeto de disputa entre Marrocos e Mauritânia. Na tentativa de se apropriarem desse território do Saara Ocidental, esses dois países entram em um conflito bélico. Há com isso uma forte resistência popular por parte da Frente Polisário, que em 27 de fevereiro de 1976 proclama a independência da República Árabe Saaraui Democrática. Após tentar absorver territórios para si até 1979, Mauritânia desiste dos conflitos e abre mão de reivindicar territórios do Saara Ocidental. Com isso, a República Árabe Saaraui Democrática passou a ser reconhecida como uma nação soberana por diversos países e ingressou na União Africana em 1982.

Os conflitos com o Marrocos permaneceram deixando milhares de mortos e refugiados. Os Estados Unidos e França apoiaram o Marrocos nesse conflito que teve um cessar fogo em 1991, quando a ONU decidiu que o conflito deveria ser resolvido através de um referendo. Nos últimos 30 anos o Marrocos impediu através de diversas formas de sabotagens que esse referendo acontecesse. Quando a República Árabe Saaraui Democrática ingressou na União africana o Marrocos retirou-se da organização. Durante todo esse tempo o Marrocos também realizou um processo de reconquista de territórios fazendo uso de forças militares, sabotagens e alianças geopolíticas.

O Marrocos é uma nação muito mais rica e populosa que o Saara Ocidental. Possui 36 milhões de habitantes e recursos naturais e condições climáticas muito mais favorável que o desértico Saara Ocidental povoado por apenas 500 mil pessoas. O Marrocos também possui uma complexa rede de alianças com potências ocidentais o que lhe dá ainda mais vantagens nesse conflito. Para piorar a situação do Saara Ocidental, os países membros da Liga Árabe e da União Africana não possuem uma posição em comum sobre o conflito. A ONU possui uma missão de paz no Saara Ocidental, sendo que essa é a única das 16 missões no mundo que não avalia a situação de direitos humanos no território onde opera. Isso em meio a fortes indícios e denúncias de torturas e assassinatos. 

Para entender o Marrocos cabe destacar que ele é o único país da África que reconhece Juan Guaidó como Presidente da Venezuela. Quando Janine Áñez se autoproclamou presidente da Bolívia após o golpe contra Evo Morales, uma de suas primeiras medidas foi cortar relações diplomáticas com a República Árabe Saaraui Democrática e reforçou sua relações com o Marrocos. O governo marroquino também chantageia os países europeus em relação a esse conflito ameaçando abrir suas fronteiras do norte permitindo a passagem de imigrantes caso aconteça qualquer manifestação de apoio ao Saara Ocidental. O Marrocos chegou a construir milhares de muros que com o apoio técnico e financeiro da Arábia Saudita e de Israel foi unificado em um único muro de 2700 km de extensão. O muro do Saara como é conhecido tenta dividir a zona de influência marroquina sobre o Saara Ocidental da parte onde se situa a Frente Polisário.

Hoje o Marrocos controla dois terços do território do Saara Ocidental, donde inclui toda a sua costa litorânea. O mar do Saara Ocidental é sua área de maior riqueza econômica e hoje está repleto de navios de pesca europeus que se estabeleceram a partir de acordos com o Marrocos. Do deserto do Saara Ocidental, o Marrocos explora minas de fosfato destinadas a produzir fertilizantes. Com isso, as duas principais fontes de riqueza do território não beneficia em nada sua população que em sua grande maioria vive hoje em campos de refugiados. O único meio de acesso terrestre entre o Marrocos e os demais países da África se dá através do Saara Ocidental. Portanto está em disputa também uma importante rota comercial, ao ponto do Marrocos ter construído até mesmo uma estrada asfaltada que cruza o país.

 

Os conflitos recentes foi uma forma do povo Saarauis reivindicar pela luta armada o seu direito de soberania nacional e denunciar as injustiças, explorações e massacres cometidas pelo Marrocos em associação com o imperialismo no território Saaraui. Tais ações tiveram repercussão internacional na medida em que parte da imprensa voltou a atenção sobre a região e o conflito. Com isso o caso passou a ser mais discutido e denunciado pela comunidade internacional.  

No dia 12 de dezembro de 2020 o embaixador estadunidense em Rabat, capital do Marrocos, David Fischer anunciou que os Estados Unidos reconhece um novo mapa para o Marrocos. Nesse mapa o Saara Ocidental é apresentado como território marroquino. 

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