quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Saem R$ 50 bilhões do Brasil: o que isso pode representar?



Uma única família de São Paulo enviou legalmente R$ 50 bilhões para fora do Brasil. O que isso pode representar? Muitas coisas e ainda esse evento apresenta relação direta com a luta política e a luta dos trabalhadores. A começar pelo fato de R$ 50 bilhões representar uma quantidade extraordinariamente grande recursos financeiros e só o fato de esse valor pertencer a uma única família brasileira já deveria por servir como razão de indignação e revolta. R$ 50 bilhões equivale a aproximadamente US$ 10 bilhões de dólares. 

Para se ter dimensão do que representa esse valor a fortuna pessoal de um dos empresários mais ricos do mundo, o sul-coreano Lee Kun-hee que faleceu no dia 25 de outubro de 2020, era de US$ 21 bilhões. Aquele que é considerado o brasileiro mais rico, Joseph Safra, possui uma fortuna pessoal de US$ 23 bilhões. Isso faz suscitar algumas questões, como de onde vem e para onde foi esse dinheiro? Não há informações detalhadas, já que os meios de comunicação se quer disseram quem é essa família. Mas essa questão faz levantar algumas hipóteses.

A primeira delas e talvez a menos provável é a de que a economia brasileira está para colapsar e o real sofrerá uma desvalorização absurda nos próximos meses. Essa possibilidade vem ao encontro dos indícios que temos de um grande colapso econômico mundial. As principais economias mundiais encontram-se em profunda recessão e o desemprego nos Estados Unidos atingi 61 milhões de pessoas, segundo o relatório do Standard Chartered Bank. Diante dessa recessão global o Brasil tem apresentado constante alta dos preços de produtos básicos, aumento do desemprego e recessão econômica. Assim uma primeira interpretação simplista pode considerar a possibilidade dessa suposta família de São Paulo ter enviado seu dinheiro para um local de aplicação mais segura por ser muito rica que tem informações privilegiadas sobre o futuro da economia brasileira.

Porém uma análise um pouco mais desconfiada faz levantar outra hipótese. A questão fundamental a ser colocada é: como essa notícia veio a público? A resposta quase que inesperada nos aponta que foi através da mídia hegemônica, golpista e imperialista brasileira. Os dois meio de comunicação que fizeram as primeiras divulgação sobre a saída dos US$ 50 bilhões foram as nada confiáveis organizações Globo e Folha de São Paulo. 

Tudo começou com a notícia em tom de denúncia feita pelo jornalista Lauro Jardim para o jornal O Globo. Na ocasião ele reforça que a transação ocorre de maneira regular e cita uma outra transação também de uma família paulista com valor similar: R$ 48 bilhões. Os R$ 48 bilhões triam sido repatriados e há uma polêmica sendo julgado em segredo pelo STF sobre a necessidade ou não do pagamento de ITCMD (Imposto sobre Transmissão Causa Mortis ou Doação de quaisquer Bens ou Direitos) no valor de R$ 2 bilhões. Tal notícia foi vinculada no dia anterior pela Folha de São Paulo alguns dias antes da notícia dos US$ 50 bilhões: dia 19 de outubro de 2020.

Tirar R$ 50 bilhões do país é uma operação incomum que impacta diretamente nas reservas internacionais do país. Outro efeito incomum foi que não houve nenhum impacto sobre o mercado financeiro nacional ou a bolsa de valores que permaneceu inalterada na sequência desse evento. Se por um acaso fosse uma grande fuga de capital a bolsa estaria em queda.

 A questão que isso levanta é: qual o interesse de uma mídia tão associado a interesses imperialistas dar destaque a uma questão como essa, já que a mesma de alguma maneira expõe parte da cloaca subterrânea da elite brasileira? E a resposta faz suscitar uma segunda hipótese, a de que, sendo uma operação arquitetada ou não, o destaque da imprensa que recebeu a saída dos US$ 50 bilhões pode estar associada a retomada de uma agenda de reformas neoliberais.

 A ideia é lançar que isso sinaliza o início de uma crise que mais uma vez só pode ser contida por mais privatizações, redução de direitos dos trabalhadores, a manutenção do teto dos gastos e cortes de despesas públicas. Essa hipótese se alinha ao fato de alguns dias depois o governo Bolsonaro lançar o Decreto 10.530, que previa o início da privatização das Unidades Básicas de Saúde (UBS). No Brasil hoje 90% do atendimento da atenção primária em saúde é realizada pelo setor público, sendo que os postos de UBS atende 80% dos problemas das pessoas que utilizam o serviço público de saúde.

Além das duas hipóteses anteriores existem outras possibilidades. Uma delas é que o envio do dinheiro está associado a tentativa de se burlar o valor do imposto em caso de herança, que é o que ocorreu no caso da repatriação dos US$ 48 bilhões. No caso deixa de se pagar o ITCMD e se paga apenas o IOF que é muito inferior. 

Outra possibilidade é a de que diante das constantes desvalorizações do Real alguém decidiu transferir o dinheiro para fora para depois trazê-lo de volta supervalorizado e comprar ativos a preço de banana no Brasil. Para se ter ideia o Real que chegou a valer R$1,90 em relação a 1 dólar em 2013 hoje já está próximo de R$ 6,00. Hoje Paulo Guedes propagandeia a possibilidade de em breve os brasileiros poderem realizar depósitos em dólar aqui no Brasil, algo que vai ao encontro da dolarização da nossa economia e fim da autonomia monetária do Brasil.

Existem pouco mais de uma dezena de empresas no Brasil que possuem um valor de mercado igual ou maior à R$ 50 bilhões. Diversos empresários brasileiros, como Jorge Paulo Lemann e Joseph Safra já operam financeiramente fora do Brasil, no caso ambos possuem residência na Suíça. Independente das hipóteses de trabalho apresentadas a questão a ser colocada diz respeito à força do poder financeiro e o quanto ela é contrária a luta pela emancipação dos trabalhadores.


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