quinta-feira, 26 de novembro de 2020

A Frente Ampla e a Luta do "Bem Contra o Mal"


Não é de hoje que nosso jornal, bem como parte da mídia de esquerda, vem denunciando a política da Frente Ampla como uma neutralizadora da prática anti-golpista, já que se trata de um movimento realizado por parte dos próprios partidos apoiadores do golpe (a direita burguesa) para recuperarem seu prestígio e enfraquecer os "extremos" (Bolsonaro e Lula). Estes, que usaram do golpe, aliados à extrema direita, para afastar a esquerda lulista do poder, agora usam de um mecanismo quase inverso, se aliando à uma parcela da esquerda, que subordina suas ações aos interesses da burguesia em troca de apoio mútuo nas eleições e manutenção de seus privilégios.

Podemos perceber seus efeitos na sensação de conformismo e anestesia que paira sobre o povo que, ou apoia o atual governo, ou transfere a responsabilidade de luta à estes governantes, cujo compromisso se resume à movimentos eleitoreiros e embates legislativos (quando não estão publicando memes em outdoors).

O intuito da Frente Ampla é bem sucedido em servir à burguesia, ao transformar o povo em mero expectador de sua própria sorte. Não a toa, com o amadurecimento desta política, presenciamos a diluição das greves dos petroleiros, dos Correios, bem como a desmobilização de outros setores trabalhistas, como os Servidores Públicos e os bancários. Porém, o pior, sem dúvidas, é a inércia que toma conta da população e seus representantes frente às mais de 150 mil mortes por conta da pandemia de COVID-19 ao assistir, de mãos atadas, nosso presidente dar de ombros para qualquer medida séria de combate ou prevenção à doença.

E é frente à esse clima apaziguante, bem calhado com as eleições municipais, que a mídia começa a dar as cartas: bastou João Santana, antigo marqueteiro petista, sugerir em sua entrevista no Roda Viva uma aliança Ciro e Lula (este de Vice) como uma das únicas situações possíveis para vencer Bolsonaro em 2022, que começou surgir matérias supostamente confirmando uma reunião "de paz" entre os dois, o que fora posteriormente negado por Lula. A repercussão demonstra não só o acerto no âmbito eleitoreiro de João Santana, mas também que este é um dos cenários de interesse para a burguesia: um candidato mais "moderado" com relação ao atual, mais centrista e com certa popularidade, não só entre a direita como também entre a esquerda, principalmente pela possibilidade do apoio de fachada de Lula (este que ficaria bem neutralizado pela figura de Ciro). Outra situação seria um concorrente explicitamente direitista, porém "menos extremo", como Sérgio Moro ou Henrique Mandetta, que, no caso, também obteria o lamentável apoio esquerdista por ser o "menos pior".

Ou seja, no fim, o que se configura é a moldagem de um candidato que consiga representar o "bem", o equilíbrio, a democracia, contra o "mal" representado por Bolsonaro, assim como foi nos EUA com Biden X Trump. O periódico golpista Época já denuncia a importação da manobra ao anunciar que o Brasil "precisa de um Joe Biden". A grande mídia brasileira e os partidos da Frente Ampla parecem coadunar com tal proposta ao apedrejar Trump e comemorar aos berros a vitória do Imperialista Democrata. Ambos já vêm ensaiando seus passos combinados para a grande epopeia de 2022.

Estas eleições municipais já deram a tona de quem realmente está no comando: sob a tutela da reforma eleitoral e do controle sobre o judiciário, a burguesia cassou diversas candidaturas e permitiu que seus candidatos dominassem o horário eleitoral como nunca; a grande mídia inundou as pesquisas com dados questionáveis e catapultou os candidatos de sua preferência, como os representantes da direita tradicional  e os da esquerda "inofensiva" ou "antipopular", como Guilherme Boulos e Manuela D´Ávila, consequentemente isolando a ameaça petista.

Com as cartas da burguesia postas à mesa, só resta à esquerda usar seus meios de mídia para propagar informações e unir forças a fim de que estas se resultem em movimentações populares de rua, ou seja, perigos reais aos golpistas! 


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