quinta-feira, 26 de novembro de 2020

Consciência Negra e a Terceirização de Lutas Populares


O Dia da Consciência Negra foi marcado pela morte de João Alberto, um cliente negro, em uma das unidades do Supermercado Carrefour de Porto Alegre, que fora espancado por dois seguranças, sendo um ex-Policial Militar. Porém, outro fato que gerou comoção, inflamada pela data, foi a dedicatória feita por Pelé a Bolsonaro de uma camisa histórica do Santos Futebol Clube. 

Não é de hoje que a imagem do clube tem sido ligada à figuras questionáveis e contraditórias às pautas sociais que o clube sempre defendeu. Entretanto, importante pontuar que aqui se tratou de uma atitude particular do Rei do Futebol. Este, que desde sempre foi duramente criticado pela militância de esquerda, o julgando por pouco se posicionar a favor de pautas progressistas, sobretudo na questão do racismo. mais uma vez foi apedrejado por conta da sua atitude.

Disso, duas perguntas podem serem feitas: Qual a utilidade à causa em criticar alguém claramente despolitizado e, ainda por cima, negro? 

Se Pelé tivesse, por toda sua vida, atuado contra o racismo, isso teria resultado em algum efeito concreto na resolução do problema?

Obviamente é muito legal quando um esportista como Lewis Hamilton, multi-campeão da Formula 1, se posiciona veementemente a respeito do tema, entretanto é importante observar que: 1) Trata-se de uma opinião particular, baseada na vivência e em questionamentos internos de uma pessoa que, guardadas exceções, possui uma formação situada na média de qualquer cidadão comum de seu país local; 2) Por mais que possa atingir uma grande camada da população por conta do tamanho de sua repercussão, seu discurso só poderá resultar em algum efeito transformador se vier carregado de conteúdo classista e revolucionário, que, por mais que seja possível, não deve ser esperado por pessoas que estão no topo da pirâmide: essa iniciativa é de responsabilidade dos partidos e movimentos sociais. A tendência é o discurso que cai na grande mídia ser banalizado ou fetichizado e, assim, tirado de seu contexto real. É dessa forma que a luta contra o racismo vai se transformando num tipo de "marca filantrópica", onde ao mesmo tempo, pode ser comercializada e ganhar uma falsa roupagem de algo transformador, ao focar o cerne do problema na consciência humana, e não na estrutura capitalista.

Cobra-se do esportista, do artista da grande mídia, como se ele representasse alguma espécie de elite intelectual, quando na verdade não faz sentido esperar que sua opinião seja diferente da do status quo do local onde vive. Ao cobrar deles tão assiduamente um posicionamento, ao ponto de iminentemente nos revoltarmos, estamos terceirizando a responsabilidade de luta de uma causa que é popular. O problema não se resolverá "de cima pra baixo", mas sim através de mobilizações populares combativas ao sistema capitalista e seus aparatos, que são a principal estrutura que perpetua o racismo.

Além disso, jamais se deve crucificar o negro, como bode expiatório, pela sua conivência, já que esse estado representa exatamente o seu papel de vítima na sociedade. Seria puni-lo duplamente. Referente a isso, fica a sugestão no link abaixo do podcast O Negro Na História do Futebol: A Voz Do Preto, de História Preta. (https://open.spotify.com/show/0gkJ4Wy8wXJkJc2lZVfLyx?si=-gGp4OQHQE6n5ozhteswuQ )

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