quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Quem são os oportunistas da esquerda? Os defensores do Baleia Rossi (MDB-SP)


No início de fevereiro, será definido o comando da mesa diretora da Câmara dos Deputados. A nova composição sucederá os trabalhos da presidência de Rodrigo Maia (DEM-RJ), sendo que a disputa para essas funções evidencia uma aliança da esquerda com os setores golpistas, manobra conhecida como Frente Ampla: uma frente da esquerda com a direita contra o Bolsonarismo.


A direita golpista (DEM, MDB, PSDB, PSL, PV, Cidadania, Rede) formaram essa coalização em torno do deputado federal Baleia Rossi para desbancar o bolsonarista Arthur Lira (Progressistas-AL). A esquerda, nesse sentido, vem articulando em apoiar o candidato do MDB para manter a oposição ao controle da Câmara pelos aliados do Bolsonaro. Assim, o PT, PSB, PDT e PCdoB procuram avançar nessa proposta.


Sem definir o apoio claro, os quatro partidos da esquerda lançaram em conjunto um manifesto dizendo que o eventual apoio ao candidato do MDB seria uma opção tática, explicando que “integrar esse bloco para derrotar o Bolsonaro não significa que abramos mão de qualquer das bandeiras que defendemos”. Para que o PT possa apoiar de fato o deputado Baleia Rossi, o partido exige que o candidato dê prioridade nos 50 pedidos de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro. A isso, a presidente do PT, Gleisi Hoffman comentou em entrevista à CNN: “Queremos pelo menos que isso não seja descartado. Que todas as medidas que a Constituição oferece em relação a contraçaõ de abusos e crimes praticados pelo governo sejam considerados: CPIs, convocações e inclusive o impeachment”.


Para continuar exemplificando a predileção pela política de Frente Ampla, temos a comovente fala do deputado federal Marcelo Freixo (PSOL/RJ): “Existe algo em comum que nos une, e é muito maior que nossas diferenças: a crença nos valores do Estado democrático de direito e a certeza de que é nosso compromisso defendê-lo diante das ameaças explícitas do presidente da República”. Ainda, a deputada federal também do PSOL/RS, Fernanda Melchionna, nos dá a letra da salvação nacional por meio de seu Twitter: “A estratégia da esquerda da eleição da Câmara tem que ser derrotar o candidato de Bolsonaro. Todas as táticas são válidas, como lançar candidato para demarcar o programa. Mas forças ocultas querem igualar o candidato de Bozo ao campo de Maia para ajudar o Lira. O PSOL não cai nessa”.


“O PSOL não cai nessa e as forças ocultas”


As forças ocultas que o PSOL estão indiretamente criticando deve ser, uma delas, uma política realista e revolucionária. Um dos partidos centrais que articularam o golpe de 2016 contra o PT, retirando a presidente Dilma Roussef da presidência da República foi o MDB. O bolsonarismo foi, precisa ser dito isso, e continua sendo uma continuidade à extrema-direita da política dos partidos golpistas. Um pedido da presidente do PT para que o Baleia Rossi inicie a CPI contra o Bolsonaro chega até ser risível diante do regime político de exceção que estamos vivendo no qual a população não tem nenhum controle do processo político. Em oposição aos lunáticos da esquerda parlamentar, trazemos aqui a crítica certeira da companheira Dilma Roussef, dizendo ao Opera Mundi: “Tem alguém mais contra a democracia do que foi o (P)MDB nos últimos tempos?”.


Ao invés de construir uma frente única da esquerda, dos trabalhadores e oprimidos e excluir, isso precisa deixar claro, toda a direita golpista e bolsonarista, a esquerda mais uma vez capitula na sua política de migalhas jogadas pelos golpistas. Isso reflete, para a militância da esquerda, uma desmoralização sem limites e confunde a todos que estão ligados à esquerda. A formação da Frente Ampla na Câmara dos Deputados é uma capitulação que refletirá no arranjo eleitoral de 2022, levando a um candidato direitista (com ares de esquerdista) para que a esquerda oportunista (na realidade, seus dirigentes) apoiem-no sem nenhum pudor. Nesses termos, sem força política na base e mobilizatória em decorrência dessas capitulações parlamentares, o regime iniciado com o Golpe de Estado de 2016 continuará a se aprofundar cada vez mais, ao menos que a esquerda tome uma política independente para defender os interesses da classe trabalhadora, pelo Fora Bolsonaro e por um candidato que represente essa política independente que, ainda hoje, apresenta-se na figura do ex-presidente Lula.


https://www.brasildefato.com.br/2020/12/23/oposicao-articula-alianca-tatica-para-impedir-dominio-de-bolsonaro-na-camara

http://atarde.uol.com.br/politica/noticias/2152154-pt-quer-que-baleia-rossi-se-comprometa-a-considerar-pedidos-de-impeachment-contra-bolsonaro-antes-de-apoio-oficial

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/painel/2021/01/maioria-do-pt-deve-optar-por-baleia-rossi-diz-deputado.shtml

https://www.causaoperaria.org.br/nova-diretoria-prepara-privatizacao-do-botafogo/


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sábado, 9 de janeiro de 2021

Eleições nos EUA (11): A “invasão” do capitólio como operação de falsa bandeira


No dia 06 de janeiro de 2020, durante a cerimônia do Congresso dos Estados Unidos de certificação da vitória de Biden como Presidente, aconteceu um grande tumulto que recebeu ampla cobertura da mídia estadunidense e internacional. Tais acontecimentos serviram para intensificar às críticas ao presidente Donald Trump e está envolto em mais mistérios do que respostas.


O capitólio é o emblemático prédio da capital estadunidense inaugurado no ano de 1800 que serve como sede das reuniões do Congresso dos EUA, formado pelo Senado e pela Câmara dos Representantes. No capitólio aconteceu um misto de protesto, conflito e apresentação performática que levanta um conjunto de dúvidas de quais são os reais interesses em torno desses acontecimentos. O termo em latim a ser utilizado é “cui bono?”: quem se beneficia disso?


Se a comprovação de fraudes é algo que demanda maiores investigações, ao menos as eleições de 2020 nos EUA foi resultante de um conjunto de irregularidades. O próprio sistema político estadunidense é demasiado complexo e confuso, de modo que a nação que se autointitula como a maior democracia do mundo não garante o instituto do voto popular por maioria absoluta. Ao contrário, não reconhece a soberania popular, mas sim a soberania de seus 50 estados federados.


No dia 06 de janeiro, a sessão de certificação do congresso previa que cada um dos estados dos EUA teriam direito a até duas horas para apresentar provas da legitimidade ou falta dela nas eleições em sua unidade federativa. Na sequência seria realizada a deliberação pela certificação ou não de Binde como Presidente. 


Aquele era o momento adequado para apresentação de provas que pudessem denunciar fraudes eleitorais e havia manifestantes pró-Trump no espaço externo do Capitólio. No exato momento em que iniciaria a apresentação de evidências de fraudes eleitorais no estado de Arizona, as três camadas de camadas de segurança do Congresso, até então consideradas instransponíveis, foram rompidas (ou liberadas) e adentraram um conjunto de figuras no mínimo excêntricas que inviabilizaram a continuidade da sessão e as possíveis objeções ao processo eleitoral. Muitos são os relatos de que parte dos manifestantes entraram com muita facilidade no Congresso, rompendo todos os controle existentes.


Um desses personagens foi um homem com o corpo tatuado com figuras místicas de origem celta, com a cara pintada com as cores da bandeira dos EUA e com um chapéu de pelo de animal e chifres. Esse mesmo homem andou tranquilamente gritando em um amplificador de som e segurando uma bandeira dos EUA pelas instalações do capitólio, ocupando até o púlpito da sala principal em determinado momento. Descobriu-se depois que esse cidadão que foi considerado pela mídia como o “Viking pró-Trump”, trata-se de Jake Angeli, um ator e dublador contratado para realizar performance em manifestações nos EUA. A BBC disse que Angeli trata-se de um representante de uma seita violenta chamada “tribalismo masculino”, mas na realidade ele participou de diversas manifestações dos Antifa e Black Live Metters antes do evento do dia 06 de janeiro que o deixou conhecido em todo o mundo [1]. 


Biden tem dito abertamente que tem três prioridades para o seu governo: 1) o combate do COVID-19; 2) a agenda verde de descarbonização, marcada pela desindustrialização da humanidade e promoção de tecnologias sustentáveis caras e pouco eficientes; 3) e o ajuste de contas com Rússia e China. Esses são meios para se alcançar o que Biden chama de retorno dos EUA à liderança do mundo, algo que segundo o futuro Presidente diminuiu bastante nos quatro anos de presidência de Donald Trump.


Concretamente, os eventos no capitólio não beneficiaram Trump. Os acontecimentos amplamente cobertos pela mídia hegemônica e transmitidos para todo o mundo beneficiram Joe Biden, Kamala Harris, os membros do partido democrata, todo o aparato do deep state e os interesses do imperialismo. 


Com a confusão, os correligionários de Trump não foram capazes de apresentar as provas de fraude eleitoral no Congresso. A mídia hegemômica reforçou nos EUA e no mundo a ideia de que Trump é um ditador autoritário e populista que incita as massas à violência e que não respeita as instituições democráticas. Imediatamente os membros do partido democrata passaram a ser porta-vozes de um impeachment contra Trump antes do dia 20 de janeiro, com amplo apoio dos meios de comunicação. A mandatária do Partido Republicano, Nancy Pelosi, tem pedido em público que os generais dos EUA tirem os códigos de armas nucleares de Trump, insinuando que ele pode atacar o próprio país. 


Facebook, Twitter e outras plataformas de redes sociais ligadas à estrutura do deep state bloquearam as contas de Donald Trump por tempo indeterminado, algo comemorado pela esquerda brasileira. Esse ato de censura contra o presidente legitimamente eleito da nação mais importante de todo o mundo mostra o quanto se constituem institutos discretos fascistas ao estilo daquilo que foi pensado pelo do agente do império inglês e funcionário da companhia britânica das índias orientais Aldous Huxley, quando em 1932, no limiar da ascensão do nazismo, tratou em seu romance Admirável Mundo Novo sobre a criação de um campo de concentração sem lágrimas. 


A vice-presidente Kamala Harris é representante oficial das empresas de big tech do Vale do Silício e deve garantir que essas grandes corporações tenham total autonomia para fazerem a supervisão e o controle de todas as pessoas do mundo durante o governo Biden. Isso deve refletir em uma forte censura aos partidos de esquerda e aos movimentos de luta dos povos em todo o mundo nos próximos 4 anos.


Esse quadro no entanto não altera o aprofundamento das contradições de classe nos EUA. Com o aprofundamento da crise no país que é sede dos interesses imperialistas, intensifica-se a guerra civil.


[1] As agências privadas que trabalham para identificar "Fake News", ou seja, as agências da "verdade" estão dizendo que Jake Angeli sempre participou do movimento Q'Anon em oposição ao movimento antifa. De qualquer modo, esses grupos que se autointitulam contra "Fake News" colaboram, em última análise, na censura de todo e qualquer tipo de informação que não seja adequada à "verdade" política que eles querem propagandear naquele momento por motivos políticos. No fim, toda e qualquer imprensa independente e de denúncias contra as agressões do imperialismo poderá ser criminalizada porque não estão de acordo com a "verdade".


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terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Editorial – 04/01/2021 Alta dos preços pode ser incontrolável em uma situação de desabastecimento


Os jovens brasileiros não passaram pelo desabastecimento geral que ocorreu durante o final da Ditadura e início da Democracia, então muitos talvez considerem a ideia de um desabastecimento fora do real, sem saber que até o início dos anos 1990 o país estava passando por uma crise fiscal e monetária que desorganizava toda a produção e gerava escassez. 


A escassez, que também pode ser uma arma econômica de um país imperialista contra seus inimigos como o caso da Venezuela, aqui tem sido um produto da devastação econômica causada pelo Golpe de Estado de 2016. A desestruturação de amplas cadeias de produção como o Petróleo (Petrobrás), a Construção Civil (Odebrecht) e a Indústria Alimentícia (JBS) paralisaram os demais complexos de produção, isso em um ambiente de liberação e abertura econômica para o saque e a exploração do país. Assim, agora estamos vendo um momento que pode ser de desfecho político mais agudo, que foi agravado com a derrocada do Covid-19. Estamos vivendo em um momento de alta de preços, com produtos em preços de escassez e outros com altas que podem colocá-los neste patamar em breve.

 

Apenas em novembro, as carnes tiveram alta de 6,54%, a batata-inglesa subiu 29,65%, o tomate teve alta de 18,45%, o arroz (6,28%) e o óleo de soja (9,24%). Entre os combustíveis, neste mesmo período, a gasolina subiu 1,64%, com sua sexta alta consecutiva, e o etanol (9,23%). 


O que podemos esperar de 2021? Com a falta de estruturação do Estado Brasileiro em ajudar o setor produtivo do país, podemos esperar que a escassez vai ser utilizada para impor aos trabalhadores uma perda. E tal ausência de postura estatal pode causar uma crise geral que pode causar desabastecimento total.


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Eleições nos EUA (9): Diretor de empresa do complexo industrial militar pode ser futuro Secretário de Defesa


Tem sido noticiado que o futuro Secretário de Defesa dos EUA deve ser Lloyd James Austin III. Austin é formado pela Academia Militar dos EUA em West Point, Nova York. Ele foi comandante da operação novo amanhecer no Iraque entre 2010 e 2011 e comandante do Comando Central dos Estados USCENTCOM. O USCENTCOM é o mais importante dos onze comandos que os EUA possui no mundo, já que abarca todo o Oriente Médio, região que está permanentemente em conflito.  Os países do USCENTCOM possuem uma quantidade extraordinária de recursos naturais, sobretudo petróleo. Para se ter dimensão da importância geoestratégica, países como Egito, Israel, Líbano, Síria, Arábia Saudita, Iraque, Irã, Iêmen, Afeganistão, Paquistão, Quirguistão e Emirados Árabes Unidos encontram-se sob esse comando.  


Austin é afro-estadunidense, o que costuma gerar uma simpatia tácita por parte da esquerda brasileira e de todo o mundo. A opinião pública estadunidense propagandeia como algo positivo que o país possa ter um Secretário de Defesa negro pela primeira vez na história.  Vale lembrar que no governo de George W. Bush dois afro-estadunidense que atuaram como secretários de Estado tiveram papel preponderante na falsificação de provas de armas de destruição em massa no Iraque e nas duas grandes guerras contra o “terror” que levaram à destruição do Afeganistão e do Iraque: Colin Powell (2001 – 2005) e Condoleezza Rice (2005 – 2009). 


O presidente afro-estadunidense Barack Obama (2009 – 2016) foi um dos maiores representantes do imperialismo estadunidense, promovendo golpes de estado e guerras híbridas. Obama, cujo vice presidente foi Joe Biden promoveu morte e destruição pelo mundo em seus 8 anos de governo, sendo patrocinador do "seven countries, seven wars" (sete países, sete guerras) com bombardeios contra Afeganistão, Iraque, Síria, Líbia, Paquistão, Iêmen e Somália. Isso mostra que origens étnicas não são garantia de nada quando se trata de guerras imperialistas.


Austin tem em seu currículo a tentativa de armar opositores sírios e a defesa pela imunidade das tropas estadunidenses em processos que envolvem crimes de guerra. Hoje, Austin pertence ao conselho de diretores da Raytheon Company. A Raytheon é uma companhia privada que atua na área de armamentos e equipamentos eletrônicos para a área militar, sendo a maior produtora de mísseis guiados do mundo. Além disso a Raytheon é uma das principais empresas que financiam o lobby a favor do complexo industrial militar e de invasões externas. 


Caso a escolha de Austin seja confirmada para a Secretaria da Defesa, a tendência belicista do governo Joe Biden será reforçada. Outro fato que deve servir de preocupação trata-se de uma possível influência direta que os grandes conglomerados privados pertencentes ao complexo industrial militar podem exercer sobre o governo Biden. Como sempre, o resultado deverá ser muita destruição e derramamento de sangue por todo o mundo.


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Eleições nos EUA (8): A política externa de Biden


Joe Biden publicou um artigo na revista que é considerada a mais importante sobre assuntos militares dos EUA, a Foreign Affairs. O nome do texto é Why America Must Lead Again Rescuing U.S. Foreign Policy After Trump (Por que a América deve liderar novamente. Resgatando a política externa dos EUA após Trump). Seu conteúdo serviu como base sobre as políticas externas aprovadas em agosto de 2020 pelo Partido Democrata para a campanha eleitoral de Biden, o que permite extrair um conjunto de elementos que deve pautar as ações dos EUA no mundo para os próximos 4 anos.


Críticas à Trump

 

Em seu artigo para a Foreign Affairs, Joe Biden deixa claro que irá romper com a doutrina de política externa praticada pelo Donald Trump. O novo presidente considera que Trump teria se afastados de aliados históricos dos EUA e com isso enfraquecido a liderança dos EUA no mundo. Biden garante que na sua presidência irá renovar tais alianças e fazer com que os EUA se torna novamente o grande líder mundial. 


OTAN


Para a Biden a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) é parte intrínseca da segurança nacional dos EUA. Trump realizou críticas constantes e ameaçou tirar os EUA e reduzir investimentos na OTAN. Joe Biden anuncia em seu artigo que irá aumentar os investimentos na aliança militar e criar estímulos para que os países europeus façam o mesmo. Os aumentos com despesas com defesa buscarão reforçar a condição da OTAN de mais poderosa força militar do mundo, segundo Biden.


Cúpula pela “democracia”

 

Em seu artigo, Joe Biden também se compromete realizar uma cúpula global em defesa da democracia em seu primeiro ano de governo. O novo Presidente dos EUA afirma que só farão parte desse evento as nações do “mundo livre” e as organizações da sociedade civil que praticam a defesa da democracia. Para ele esse evento servirá como fórum de decisão coletiva sobre os regimes representam uma “ameaça global”.


Sendo bastante tendencioso definir o que são nações do “mundo livre” e “ameaças globais”, essa declaração evidencia que farão parte da cúpula apenas países que possuem alinhamento histórico com os EUA: Reino Unido, França, Alemanha, Israel, Canadá, Japão, Colômbia, Chile, etc. 


Como “ameaças globais” deve ser enquadradas nações que se contrapõem às investidas imperialistas dos EUA e que possuem projetos mais autônomos de desenvolvimento, como: Cuba, Venezuela, Nicarágua, China, Síria, Irã, Iêmen, Bielorrússia e Rússia.  A exemplo do governo Obama, os EUA deve promover revoluções coloridas, troca de regimes, golpes de Estado, guerras híbridas e até mesmo guerras quentes com invasões e bombardeios nas nações que considerar como ameaças globais.


China e Rússia


Biden afirmou que o aumento da capacidade militar da OTAN objetiva conter “violações de normas internacionais” e “agressões russas”. Também propõe a criação de uma frente única de nações com o propósito de conter possíveis violações dos direitos humanos e “ofensivas chinesas”.

Isso faz crer na possibilidade de intensificação da ingerência dos EUA em conflitos na periferia da Rússia: Azerbaijão, Armênia, Ucrânia, Geórgia, Quirguistão, Moldávia e Chechênia. Há também expectativa de acentuação de tensões militares no mar do Sul da China. Podem retomar a agenda de protestos em Hong Kong e existir ações que inviabilizem as novas rotas da seda. 


Liderança mundial dos EUA


Biden considerou a possibilidade de os EUA servir como um grande guia do mundo, algo que segundo ele aconteceu nos últimos 70 anos. Para o novo presidente, os EUA teria exercido liderança no estabelecimento de regras internacionais, algo que sempre se deu tanto em governos democratas como republicanos, mas que foi interrompido por Donald Trump. Joe Biden afirma que em seu governo a liderança mundial dos EUA será revivida. 


O que esperar do governo Biden?


As diretrizes da política externa de Biden contou a participação de mais de 2 mil conselheiros militares e de política externa. 130 membros do Partido Republicano conhecidos em âmbito nacional declararam apoio à Biden. Dentre esses republicanos está John Negroponte, diretor de inteligência nacional (2005-2007) e secretário de Estado adjunto (2007 – 2009) no governo de George W. Bush. Negroponte exerceu um importante papel nas guerras contra Afeganistão e Iraque, sendo o primeiro embaixador dos EUA no Iraque após a consolidação da invasão estadunidense em 2004.


Essa aliança entre membros do partido republicano, em sua maioria neocons, e democrata, em sua maioria imperialistas humanitários, no apoio à Biden e oposição à Trump evidencia as entranhas do estado profundo (deep state). As divergências entre republicanos e democratas que na política interna estão relacionadas à aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo e igualdade racial e de gênero, não se manifestam na política externa. Esses dois partidos parecem estar alinhados na pauta imperialista de expropriação estrangeira e portanto formam um único partido que é o partido da guerra.


Envolvimento de Biden em guerras


Como presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado três vezes entre 2001 e 2009, Joe Biden prestou importantes contribuições para as guerras do Afeganistão e Iraque no governo de Georg W. Bush. 


Em 2001, Biden apoiou abertamente a invasão proposta pelo Presidente George W. Bush ao Afeganistão em 2001. Em 2002, Biden foi o responsável pela resolução do Senado que autorizou que Bush invadisse o Iraque sob a acusação de Saddam Hussein manter armas de destruição em massa. As provas apresentadas pelos EUA sobre as armas iraquianas provaram ser falsas.


 Em 2007, Biden aprovou no Senado um plano que dividiu o Iraque em três regiões autônomas por grupos étnicos ou religiosos: curdos, xiitas e sunitas. O desmembramento do Iraque acirrou conflitos regionais internos, enfraquecendo a unidade e gerando um processo de balcanização.


Como vice-presidente de Barack Obama (2009 – 2016), Biden foi um fervoroso apoiador das guerras na Líbia e Síria e incitou um confronto com a Rússia. As decisões sobre guerras tomadas pelo governo democrata de Obama sempre tiveram amplo apoio dos congressistas republicanos.


Fontes: 

BIDEN, Robinette Joseph. Why America Must Lead Again. Rescuing U.S. Foreign Policy After Trump”. Foreign Affairs, março/abril, 2020.

BIDEN, Robinette Joseph. Biden Harris: a presidency for all americans. The power of America’s example: the Biden plan for leading the democratic world to meet the challenges of the 21st century. Disponível em: < https://joebiden.com/americanleadership/> Acesso em: 21/12/2020.

DINUCCI, Manlio. Voltaire Network. La politica estera di Joe Biden. Disponível em: < https://www.voltairenet.org/article211595.html> Acesso em: 21/12/2020.



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segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

A Esquerda E Seus Bodes Expiatórios: Um Novo Desfocamento Na Questão Da Pandemia


Início de ano e nada de nossos governantes tomarem medidas sérias quanto ao combate do coronavirus. Já são quase 200 mil mortes e Jair Bolsonaro insiste em relevar as precauções e manter a questão no campo do embate político com o Centrão que, dentro deste contexto de disputa, se vê em uma corrida para o desenvolvimento da Coronavac, apesar de também ter abrido mão dos cuidados sanitários na campanha eleitoral. Tudo isso junto ao funcionamento normalizado do comércio e o afrouxamento do já insuficiente auxílio emergencial.


Não são poucos os problemas de âmbito governamental a serem tratados pela esquerda. Porém, neste fim de ano, verificou-se um fenômeno de desarticulação política corriqueiro: em meio a crise, a esquerda burguesa é pautada pela grande mídia, que é respaldada muito por conta de seus veículos que difundem pautas identitárias ou humanitárias. 


Fomentada pelo punitivismo e sentimento de superioridade intelectual, a burguesia se serviu de notícias a respeito das aglomerações e grandes festas, o que acabou rendendo algumas revoltas e cancelamentos, mas nada que mude a vida de ninguém, muito menos da classe trabalhadora pois, como sempre, o diálogo e a discussão política ficou para segundo plano.


Celebridades já impopulares no meio da esquerda como Neymar e Carlinhos Maia foram escolhidas a dedo como bode expiatório. Nem é preciso fazer muito esforço para criticá-los, pois são milionarios e "padrõezinhos", ao contrário do golpista Caetano Veloso, por exemplo. O conteúdo das críticas ainda fica no âmbito do juízo de valor superficial, como a responsabilidade pela fama e o suposto mal-caratismo, questões completamente inócuas para um panorama político que exige medidas concretas urgentes e que refletem uma masturbação ideológica que resulta na defesa da burguesia.


Outra questão problemática que a esquerda acaba usando como justificativa para crítica é o fato deles serem milionários, o que é bem diferente de ser um governante ou detentor dos meios de produção. Alienação ou subordinação burguesa? Enfim, em um sentido político, o que importa é o monopólio do poder de decisão. A atenção deve ser dada sempre a quem tem competência de, no caso, prover testes de COVID-19 gratuitos, garantir subsídios econômicos e acesso universal à saúde para a população.


Cada vez mais fadada a segregação e ao individualismo, a classe média não consegue ver com claridade uma saída para a crise que preze pela unificação popular. Estimular a culpa ao seu semelhante é uma leitura estratégica burguesa que a mídia historicamente faz e, numa situação especial como essa, vem a calhar ainda mais: movimentos revolucionários tendem a ficar isolados e a política polarizada entre o Bolsonarismo e o Centrão fica consolidada, acabando por minar a ameaça de reascensão da esquerda. Estes são os reais interesses dessa chuva de notícias tendenciosas da grande mídia!


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Governo Boric será de direita besuntado em um esquerdismo de fachada

No dia 11 o novo presidente do Chile tomou posse, após 4 anos de governo do direitista Sebastián Piñera. A imprensa internacional deu muito ...