Início de ano e nada de nossos governantes tomarem medidas sérias quanto ao combate do coronavirus. Já são quase 200 mil mortes e Jair Bolsonaro insiste em relevar as precauções e manter a questão no campo do embate político com o Centrão que, dentro deste contexto de disputa, se vê em uma corrida para o desenvolvimento da Coronavac, apesar de também ter abrido mão dos cuidados sanitários na campanha eleitoral. Tudo isso junto ao funcionamento normalizado do comércio e o afrouxamento do já insuficiente auxílio emergencial.
Não são poucos os problemas de âmbito governamental a serem tratados pela esquerda. Porém, neste fim de ano, verificou-se um fenômeno de desarticulação política corriqueiro: em meio a crise, a esquerda burguesa é pautada pela grande mídia, que é respaldada muito por conta de seus veículos que difundem pautas identitárias ou humanitárias.
Fomentada pelo punitivismo e sentimento de superioridade intelectual, a burguesia se serviu de notícias a respeito das aglomerações e grandes festas, o que acabou rendendo algumas revoltas e cancelamentos, mas nada que mude a vida de ninguém, muito menos da classe trabalhadora pois, como sempre, o diálogo e a discussão política ficou para segundo plano.
Celebridades já impopulares no meio da esquerda como Neymar e Carlinhos Maia foram escolhidas a dedo como bode expiatório. Nem é preciso fazer muito esforço para criticá-los, pois são milionarios e "padrõezinhos", ao contrário do golpista Caetano Veloso, por exemplo. O conteúdo das críticas ainda fica no âmbito do juízo de valor superficial, como a responsabilidade pela fama e o suposto mal-caratismo, questões completamente inócuas para um panorama político que exige medidas concretas urgentes e que refletem uma masturbação ideológica que resulta na defesa da burguesia.
Outra questão problemática que a esquerda acaba usando como justificativa para crítica é o fato deles serem milionários, o que é bem diferente de ser um governante ou detentor dos meios de produção. Alienação ou subordinação burguesa? Enfim, em um sentido político, o que importa é o monopólio do poder de decisão. A atenção deve ser dada sempre a quem tem competência de, no caso, prover testes de COVID-19 gratuitos, garantir subsídios econômicos e acesso universal à saúde para a população.
Cada vez mais fadada a segregação e ao individualismo, a classe média não consegue ver com claridade uma saída para a crise que preze pela unificação popular. Estimular a culpa ao seu semelhante é uma leitura estratégica burguesa que a mídia historicamente faz e, numa situação especial como essa, vem a calhar ainda mais: movimentos revolucionários tendem a ficar isolados e a política polarizada entre o Bolsonarismo e o Centrão fica consolidada, acabando por minar a ameaça de reascensão da esquerda. Estes são os reais interesses dessa chuva de notícias tendenciosas da grande mídia!
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