terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Editorial – 04/01/2021 Alta dos preços pode ser incontrolável em uma situação de desabastecimento


Os jovens brasileiros não passaram pelo desabastecimento geral que ocorreu durante o final da Ditadura e início da Democracia, então muitos talvez considerem a ideia de um desabastecimento fora do real, sem saber que até o início dos anos 1990 o país estava passando por uma crise fiscal e monetária que desorganizava toda a produção e gerava escassez. 


A escassez, que também pode ser uma arma econômica de um país imperialista contra seus inimigos como o caso da Venezuela, aqui tem sido um produto da devastação econômica causada pelo Golpe de Estado de 2016. A desestruturação de amplas cadeias de produção como o Petróleo (Petrobrás), a Construção Civil (Odebrecht) e a Indústria Alimentícia (JBS) paralisaram os demais complexos de produção, isso em um ambiente de liberação e abertura econômica para o saque e a exploração do país. Assim, agora estamos vendo um momento que pode ser de desfecho político mais agudo, que foi agravado com a derrocada do Covid-19. Estamos vivendo em um momento de alta de preços, com produtos em preços de escassez e outros com altas que podem colocá-los neste patamar em breve.

 

Apenas em novembro, as carnes tiveram alta de 6,54%, a batata-inglesa subiu 29,65%, o tomate teve alta de 18,45%, o arroz (6,28%) e o óleo de soja (9,24%). Entre os combustíveis, neste mesmo período, a gasolina subiu 1,64%, com sua sexta alta consecutiva, e o etanol (9,23%). 


O que podemos esperar de 2021? Com a falta de estruturação do Estado Brasileiro em ajudar o setor produtivo do país, podemos esperar que a escassez vai ser utilizada para impor aos trabalhadores uma perda. E tal ausência de postura estatal pode causar uma crise geral que pode causar desabastecimento total.


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Eleições nos EUA (9): Diretor de empresa do complexo industrial militar pode ser futuro Secretário de Defesa


Tem sido noticiado que o futuro Secretário de Defesa dos EUA deve ser Lloyd James Austin III. Austin é formado pela Academia Militar dos EUA em West Point, Nova York. Ele foi comandante da operação novo amanhecer no Iraque entre 2010 e 2011 e comandante do Comando Central dos Estados USCENTCOM. O USCENTCOM é o mais importante dos onze comandos que os EUA possui no mundo, já que abarca todo o Oriente Médio, região que está permanentemente em conflito.  Os países do USCENTCOM possuem uma quantidade extraordinária de recursos naturais, sobretudo petróleo. Para se ter dimensão da importância geoestratégica, países como Egito, Israel, Líbano, Síria, Arábia Saudita, Iraque, Irã, Iêmen, Afeganistão, Paquistão, Quirguistão e Emirados Árabes Unidos encontram-se sob esse comando.  


Austin é afro-estadunidense, o que costuma gerar uma simpatia tácita por parte da esquerda brasileira e de todo o mundo. A opinião pública estadunidense propagandeia como algo positivo que o país possa ter um Secretário de Defesa negro pela primeira vez na história.  Vale lembrar que no governo de George W. Bush dois afro-estadunidense que atuaram como secretários de Estado tiveram papel preponderante na falsificação de provas de armas de destruição em massa no Iraque e nas duas grandes guerras contra o “terror” que levaram à destruição do Afeganistão e do Iraque: Colin Powell (2001 – 2005) e Condoleezza Rice (2005 – 2009). 


O presidente afro-estadunidense Barack Obama (2009 – 2016) foi um dos maiores representantes do imperialismo estadunidense, promovendo golpes de estado e guerras híbridas. Obama, cujo vice presidente foi Joe Biden promoveu morte e destruição pelo mundo em seus 8 anos de governo, sendo patrocinador do "seven countries, seven wars" (sete países, sete guerras) com bombardeios contra Afeganistão, Iraque, Síria, Líbia, Paquistão, Iêmen e Somália. Isso mostra que origens étnicas não são garantia de nada quando se trata de guerras imperialistas.


Austin tem em seu currículo a tentativa de armar opositores sírios e a defesa pela imunidade das tropas estadunidenses em processos que envolvem crimes de guerra. Hoje, Austin pertence ao conselho de diretores da Raytheon Company. A Raytheon é uma companhia privada que atua na área de armamentos e equipamentos eletrônicos para a área militar, sendo a maior produtora de mísseis guiados do mundo. Além disso a Raytheon é uma das principais empresas que financiam o lobby a favor do complexo industrial militar e de invasões externas. 


Caso a escolha de Austin seja confirmada para a Secretaria da Defesa, a tendência belicista do governo Joe Biden será reforçada. Outro fato que deve servir de preocupação trata-se de uma possível influência direta que os grandes conglomerados privados pertencentes ao complexo industrial militar podem exercer sobre o governo Biden. Como sempre, o resultado deverá ser muita destruição e derramamento de sangue por todo o mundo.


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Eleições nos EUA (8): A política externa de Biden


Joe Biden publicou um artigo na revista que é considerada a mais importante sobre assuntos militares dos EUA, a Foreign Affairs. O nome do texto é Why America Must Lead Again Rescuing U.S. Foreign Policy After Trump (Por que a América deve liderar novamente. Resgatando a política externa dos EUA após Trump). Seu conteúdo serviu como base sobre as políticas externas aprovadas em agosto de 2020 pelo Partido Democrata para a campanha eleitoral de Biden, o que permite extrair um conjunto de elementos que deve pautar as ações dos EUA no mundo para os próximos 4 anos.


Críticas à Trump

 

Em seu artigo para a Foreign Affairs, Joe Biden deixa claro que irá romper com a doutrina de política externa praticada pelo Donald Trump. O novo presidente considera que Trump teria se afastados de aliados históricos dos EUA e com isso enfraquecido a liderança dos EUA no mundo. Biden garante que na sua presidência irá renovar tais alianças e fazer com que os EUA se torna novamente o grande líder mundial. 


OTAN


Para a Biden a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) é parte intrínseca da segurança nacional dos EUA. Trump realizou críticas constantes e ameaçou tirar os EUA e reduzir investimentos na OTAN. Joe Biden anuncia em seu artigo que irá aumentar os investimentos na aliança militar e criar estímulos para que os países europeus façam o mesmo. Os aumentos com despesas com defesa buscarão reforçar a condição da OTAN de mais poderosa força militar do mundo, segundo Biden.


Cúpula pela “democracia”

 

Em seu artigo, Joe Biden também se compromete realizar uma cúpula global em defesa da democracia em seu primeiro ano de governo. O novo Presidente dos EUA afirma que só farão parte desse evento as nações do “mundo livre” e as organizações da sociedade civil que praticam a defesa da democracia. Para ele esse evento servirá como fórum de decisão coletiva sobre os regimes representam uma “ameaça global”.


Sendo bastante tendencioso definir o que são nações do “mundo livre” e “ameaças globais”, essa declaração evidencia que farão parte da cúpula apenas países que possuem alinhamento histórico com os EUA: Reino Unido, França, Alemanha, Israel, Canadá, Japão, Colômbia, Chile, etc. 


Como “ameaças globais” deve ser enquadradas nações que se contrapõem às investidas imperialistas dos EUA e que possuem projetos mais autônomos de desenvolvimento, como: Cuba, Venezuela, Nicarágua, China, Síria, Irã, Iêmen, Bielorrússia e Rússia.  A exemplo do governo Obama, os EUA deve promover revoluções coloridas, troca de regimes, golpes de Estado, guerras híbridas e até mesmo guerras quentes com invasões e bombardeios nas nações que considerar como ameaças globais.


China e Rússia


Biden afirmou que o aumento da capacidade militar da OTAN objetiva conter “violações de normas internacionais” e “agressões russas”. Também propõe a criação de uma frente única de nações com o propósito de conter possíveis violações dos direitos humanos e “ofensivas chinesas”.

Isso faz crer na possibilidade de intensificação da ingerência dos EUA em conflitos na periferia da Rússia: Azerbaijão, Armênia, Ucrânia, Geórgia, Quirguistão, Moldávia e Chechênia. Há também expectativa de acentuação de tensões militares no mar do Sul da China. Podem retomar a agenda de protestos em Hong Kong e existir ações que inviabilizem as novas rotas da seda. 


Liderança mundial dos EUA


Biden considerou a possibilidade de os EUA servir como um grande guia do mundo, algo que segundo ele aconteceu nos últimos 70 anos. Para o novo presidente, os EUA teria exercido liderança no estabelecimento de regras internacionais, algo que sempre se deu tanto em governos democratas como republicanos, mas que foi interrompido por Donald Trump. Joe Biden afirma que em seu governo a liderança mundial dos EUA será revivida. 


O que esperar do governo Biden?


As diretrizes da política externa de Biden contou a participação de mais de 2 mil conselheiros militares e de política externa. 130 membros do Partido Republicano conhecidos em âmbito nacional declararam apoio à Biden. Dentre esses republicanos está John Negroponte, diretor de inteligência nacional (2005-2007) e secretário de Estado adjunto (2007 – 2009) no governo de George W. Bush. Negroponte exerceu um importante papel nas guerras contra Afeganistão e Iraque, sendo o primeiro embaixador dos EUA no Iraque após a consolidação da invasão estadunidense em 2004.


Essa aliança entre membros do partido republicano, em sua maioria neocons, e democrata, em sua maioria imperialistas humanitários, no apoio à Biden e oposição à Trump evidencia as entranhas do estado profundo (deep state). As divergências entre republicanos e democratas que na política interna estão relacionadas à aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo e igualdade racial e de gênero, não se manifestam na política externa. Esses dois partidos parecem estar alinhados na pauta imperialista de expropriação estrangeira e portanto formam um único partido que é o partido da guerra.


Envolvimento de Biden em guerras


Como presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado três vezes entre 2001 e 2009, Joe Biden prestou importantes contribuições para as guerras do Afeganistão e Iraque no governo de Georg W. Bush. 


Em 2001, Biden apoiou abertamente a invasão proposta pelo Presidente George W. Bush ao Afeganistão em 2001. Em 2002, Biden foi o responsável pela resolução do Senado que autorizou que Bush invadisse o Iraque sob a acusação de Saddam Hussein manter armas de destruição em massa. As provas apresentadas pelos EUA sobre as armas iraquianas provaram ser falsas.


 Em 2007, Biden aprovou no Senado um plano que dividiu o Iraque em três regiões autônomas por grupos étnicos ou religiosos: curdos, xiitas e sunitas. O desmembramento do Iraque acirrou conflitos regionais internos, enfraquecendo a unidade e gerando um processo de balcanização.


Como vice-presidente de Barack Obama (2009 – 2016), Biden foi um fervoroso apoiador das guerras na Líbia e Síria e incitou um confronto com a Rússia. As decisões sobre guerras tomadas pelo governo democrata de Obama sempre tiveram amplo apoio dos congressistas republicanos.


Fontes: 

BIDEN, Robinette Joseph. Why America Must Lead Again. Rescuing U.S. Foreign Policy After Trump”. Foreign Affairs, março/abril, 2020.

BIDEN, Robinette Joseph. Biden Harris: a presidency for all americans. The power of America’s example: the Biden plan for leading the democratic world to meet the challenges of the 21st century. Disponível em: < https://joebiden.com/americanleadership/> Acesso em: 21/12/2020.

DINUCCI, Manlio. Voltaire Network. La politica estera di Joe Biden. Disponível em: < https://www.voltairenet.org/article211595.html> Acesso em: 21/12/2020.



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segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

A Esquerda E Seus Bodes Expiatórios: Um Novo Desfocamento Na Questão Da Pandemia


Início de ano e nada de nossos governantes tomarem medidas sérias quanto ao combate do coronavirus. Já são quase 200 mil mortes e Jair Bolsonaro insiste em relevar as precauções e manter a questão no campo do embate político com o Centrão que, dentro deste contexto de disputa, se vê em uma corrida para o desenvolvimento da Coronavac, apesar de também ter abrido mão dos cuidados sanitários na campanha eleitoral. Tudo isso junto ao funcionamento normalizado do comércio e o afrouxamento do já insuficiente auxílio emergencial.


Não são poucos os problemas de âmbito governamental a serem tratados pela esquerda. Porém, neste fim de ano, verificou-se um fenômeno de desarticulação política corriqueiro: em meio a crise, a esquerda burguesa é pautada pela grande mídia, que é respaldada muito por conta de seus veículos que difundem pautas identitárias ou humanitárias. 


Fomentada pelo punitivismo e sentimento de superioridade intelectual, a burguesia se serviu de notícias a respeito das aglomerações e grandes festas, o que acabou rendendo algumas revoltas e cancelamentos, mas nada que mude a vida de ninguém, muito menos da classe trabalhadora pois, como sempre, o diálogo e a discussão política ficou para segundo plano.


Celebridades já impopulares no meio da esquerda como Neymar e Carlinhos Maia foram escolhidas a dedo como bode expiatório. Nem é preciso fazer muito esforço para criticá-los, pois são milionarios e "padrõezinhos", ao contrário do golpista Caetano Veloso, por exemplo. O conteúdo das críticas ainda fica no âmbito do juízo de valor superficial, como a responsabilidade pela fama e o suposto mal-caratismo, questões completamente inócuas para um panorama político que exige medidas concretas urgentes e que refletem uma masturbação ideológica que resulta na defesa da burguesia.


Outra questão problemática que a esquerda acaba usando como justificativa para crítica é o fato deles serem milionários, o que é bem diferente de ser um governante ou detentor dos meios de produção. Alienação ou subordinação burguesa? Enfim, em um sentido político, o que importa é o monopólio do poder de decisão. A atenção deve ser dada sempre a quem tem competência de, no caso, prover testes de COVID-19 gratuitos, garantir subsídios econômicos e acesso universal à saúde para a população.


Cada vez mais fadada a segregação e ao individualismo, a classe média não consegue ver com claridade uma saída para a crise que preze pela unificação popular. Estimular a culpa ao seu semelhante é uma leitura estratégica burguesa que a mídia historicamente faz e, numa situação especial como essa, vem a calhar ainda mais: movimentos revolucionários tendem a ficar isolados e a política polarizada entre o Bolsonarismo e o Centrão fica consolidada, acabando por minar a ameaça de reascensão da esquerda. Estes são os reais interesses dessa chuva de notícias tendenciosas da grande mídia!


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sábado, 2 de janeiro de 2021

Notícias do mundo: Saara Ocidental e Marrocos – interesses imperialistas em torno de uma guerra desleal

O conflito entre o Saara Ocidental e o Marrocos não recebe destaque da imprensa. Muitas pessoas se quer sabem que esse conflito existe e quando descobrem imaginam tratar de mais uma guerra localizada na África. No entanto, essa guerra camufla interesses geopolíticos muito claros do imperialismo. Nesse caso o representante imperialista regional é o Marrocos, uma monarquia cujo Rei, Mohammed VI, é apresentado como uma figura moderna, ocidentalizada e defensor da democracia. Mohamed VI sempre é fotografado usando roupas descoladas e em férias por revistas de fofoca. Além disso, essa figura costuma ter uma agende bastante cheia de compromissos com líderes políticos ocidentais vinculados ao imperialismo.

Em outubro de 2020 o movimento político revolucionário Frente Polisário bloqueou o acesso do Marrocos a uma vila chamada Guergerat no sul do Saara Ocidental e que dá acesso a Mauritânia. O Marrocos enviou uma tropa para garantir a reabertura da fronteira e sucedeu uma troca de tiros. Esse evento fez surgir a possibilidade de uma guerra regional com forte influência de interesses imperialistas.

O Saara Ocidental foi uma colônia espanhola por séculos. Em meio à crise do franquismo, na década de 1970 deixa de ser uma colônia espanhola e passa ser objeto de disputa entre Marrocos e Mauritânia. Na tentativa de se apropriarem desse território do Saara Ocidental, esses dois países entram em um conflito bélico. Há com isso uma forte resistência popular por parte da Frente Polisário, que em 27 de fevereiro de 1976 proclama a independência da República Árabe Saaraui Democrática. Após tentar absorver territórios para si até 1979, Mauritânia desiste dos conflitos e abre mão de reivindicar territórios do Saara Ocidental. Com isso, a República Árabe Saaraui Democrática passou a ser reconhecida como uma nação soberana por diversos países e ingressou na União Africana em 1982.

Os conflitos com o Marrocos permaneceram deixando milhares de mortos e refugiados. Os Estados Unidos e França apoiaram o Marrocos nesse conflito que teve um cessar fogo em 1991, quando a ONU decidiu que o conflito deveria ser resolvido através de um referendo. Nos últimos 30 anos o Marrocos impediu através de diversas formas de sabotagens que esse referendo acontecesse. Quando a República Árabe Saaraui Democrática ingressou na União africana o Marrocos retirou-se da organização. Durante todo esse tempo o Marrocos também realizou um processo de reconquista de territórios fazendo uso de forças militares, sabotagens e alianças geopolíticas.

O Marrocos é uma nação muito mais rica e populosa que o Saara Ocidental. Possui 36 milhões de habitantes e recursos naturais e condições climáticas muito mais favorável que o desértico Saara Ocidental povoado por apenas 500 mil pessoas. O Marrocos também possui uma complexa rede de alianças com potências ocidentais o que lhe dá ainda mais vantagens nesse conflito. Para piorar a situação do Saara Ocidental, os países membros da Liga Árabe e da União Africana não possuem uma posição em comum sobre o conflito. A ONU possui uma missão de paz no Saara Ocidental, sendo que essa é a única das 16 missões no mundo que não avalia a situação de direitos humanos no território onde opera. Isso em meio a fortes indícios e denúncias de torturas e assassinatos. 

Para entender o Marrocos cabe destacar que ele é o único país da África que reconhece Juan Guaidó como Presidente da Venezuela. Quando Janine Áñez se autoproclamou presidente da Bolívia após o golpe contra Evo Morales, uma de suas primeiras medidas foi cortar relações diplomáticas com a República Árabe Saaraui Democrática e reforçou sua relações com o Marrocos. O governo marroquino também chantageia os países europeus em relação a esse conflito ameaçando abrir suas fronteiras do norte permitindo a passagem de imigrantes caso aconteça qualquer manifestação de apoio ao Saara Ocidental. O Marrocos chegou a construir milhares de muros que com o apoio técnico e financeiro da Arábia Saudita e de Israel foi unificado em um único muro de 2700 km de extensão. O muro do Saara como é conhecido tenta dividir a zona de influência marroquina sobre o Saara Ocidental da parte onde se situa a Frente Polisário.

Hoje o Marrocos controla dois terços do território do Saara Ocidental, donde inclui toda a sua costa litorânea. O mar do Saara Ocidental é sua área de maior riqueza econômica e hoje está repleto de navios de pesca europeus que se estabeleceram a partir de acordos com o Marrocos. Do deserto do Saara Ocidental, o Marrocos explora minas de fosfato destinadas a produzir fertilizantes. Com isso, as duas principais fontes de riqueza do território não beneficia em nada sua população que em sua grande maioria vive hoje em campos de refugiados. O único meio de acesso terrestre entre o Marrocos e os demais países da África se dá através do Saara Ocidental. Portanto está em disputa também uma importante rota comercial, ao ponto do Marrocos ter construído até mesmo uma estrada asfaltada que cruza o país.

 

Os conflitos recentes foi uma forma do povo Saarauis reivindicar pela luta armada o seu direito de soberania nacional e denunciar as injustiças, explorações e massacres cometidas pelo Marrocos em associação com o imperialismo no território Saaraui. Tais ações tiveram repercussão internacional na medida em que parte da imprensa voltou a atenção sobre a região e o conflito. Com isso o caso passou a ser mais discutido e denunciado pela comunidade internacional.  

No dia 12 de dezembro de 2020 o embaixador estadunidense em Rabat, capital do Marrocos, David Fischer anunciou que os Estados Unidos reconhece um novo mapa para o Marrocos. Nesse mapa o Saara Ocidental é apresentado como território marroquino. 

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sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

Eleições nos EUA (7): Um terço da equipe de transição de Biden pertence ao complexo industrial militar


Em meio às comemorações da esquerda na esperança de que dias melhores virão, Joe Biden tem anunciado sua equipe de transição. O que assusta é que em torno de um terço desses nomes provém do complexo industrial militar ou são figuras bastante conhecidas em guerras. Isso faz crer que o governo Biden terá uma forte tendência belicista e os dias que virão não serão nada fáceis para o mundo e para a América Latina.


Muitas das figuras da equipe de transição de Biden vêm de think tanks militares como o Center for Strategic and international ‎Studies (CSIS), o Center for a New American Security (CNAS) e a Rand Corporation. Outros provém das quatro maiores fabricantes de armas do mundo: General Dynamics, Raytheon, Nortrop Grumman e Lockheed Martin.


Cabe destacar que ainda que Donald Trump se apresente como uma figura esdrúxula, tenha impulsionado uma onda neoconservadora no mundo e sirva como apoio para Jair Bolsonaro, o dirigente que deve deixar a Casa Branca no início de 2021 teve a marca de ser o primeiro Presidente dos EUA a não iniciar uma guerra declarada nos últimos 30 anos. Desde o governo de Ronald Reagan, os EUA tem realizado interruptamente ataques e invasões estrangeiras. Durante os quatro anos de governo Trump essa lógica foi interrompida.

Biden nomeou um conjunto de especialistas em guerra, muitos dos quais provenientes do governo Obama, como responsáveis pela elaboração da agenda de seu governo. 


Entre eles encontra-se Lisa Sawyer que deve compor o Departamento de Defesa. Sawyer foi diretora de assuntos estratégicos da OTAN, membro do Conselho de Segurança Nacional e consultora de política externa da JPMorgan Chase. No Center for a New American Security ajudou a formular os métodos de guerra econômica dos EUA para desestabilização de países. Publicamente ela defende o aumento de tropas na Europa e o envio de armas à Ucrânia como forma de se opor às “agressões” russas. Diante do comitê do Senado que supervisiona às Forças Armadas dos EUA, Sawyer disse em 2017 que: “Em vez de se curvar às lanças de influência russas, forneça à Ucrânia ajuda letal que necessita e aumente o apoio dos EUA às nações vulneráveis da região”. 


Outra figura que compõe a equipe de transição de Biden é Linda Thomas-Greenfield. Thomas-Greenfield é muito próxima a ex-conselheira de Segurança Nacional dos EUA responsável pela guerra na Líbia, Susan Rice. Rice ainda possui no currículo a invasão ao Iraque em 2003 e a retirada das tropas da ONU que permitiram o genocídio de Ruanda em 1994. Thomas-Greenfield foi uma das principais apoiadora da política neocolonial de Bush que viabilizou maior exploração aos países africanos conhecida como Millennium Challenge Account. Antes trabalhou na empresa de lobby da indústria militar da ex-Secretaria de Estado Madeleine Albright, a Albright Stonebridge Group. Entre os clientes da Albright Stonebridge Group está a empresa de investimentos de Paul Singer. Singer ficou conhecido por comprar os títulos abutres argentinos e depois processar o país. A Presidente argentina acusou Singer de ter a ameaçado com financiamentos aos seus opositores caso sua vontade não fosse cumprida nas renegociações da dívida externa argentina.


Mais um nome conhecido é o de Dana Stroul, professora do neoconservador Washington Institute for Near East Policy que possui fortes ligações com a organização sionista American Israel Public Affairs Committee (AIPAC). Stroul tem tralhado já a um tempo com políticos democratas, sobretudo ajudando com consultorias sobre a guerra suja na Síria. Ela chegou a recomendar que os EUA deveriam manter uma ocupação militar em um terço do país, no caso a parte mais rica em recursos. Também defende a imposição de novas sanções econômicas à Síria e o não envolvimento dos EUA na reconstrução do país. 


Farroq Mitha, que trabalhou no Pentágono durante o governo Obama contribuindo para o fortalecimento do lobby israelense e participante das conferências da AIPAC também se faz presente da equipe de transição de Biden. 


Agora o que parece mais assombroso é o número de membros do novo governo Biden que apoiam a anos a mudança de regime na Venezuela. Dentre eles encontram-se Paula García Tufro, que foi membro do Conselho de Segurança Nacional durante o governo Obama. Tufro apoiou as declarações de Obama de que a Venezuela representava uma ameaça à segurança dos EUA e ainda atuou junto a grupos de apoio do líder golpista venezuelano Juan Guaido sitiados em Washington D.C.


Kelly Magsamen foi vice-presidente do Center for American Progress e já trabalhou no Pentágono e no Departamento de Estado. Magsamen afirmou que Elliott Abrams é um defensor ferrenho dos direitos humanos. Abrams foi responsável por esquadrões de morte na América Central na década de 1980, sendo o enviado especial dos EUA na Venezuela em 2019. Roberta Jacobson trabalhou na empresa Albright Stonebridge Group e foi embaixadora dos EUA no México. Jacobson ajudou a conceber a designação do governo Obama que determinou a Venezuela como uma ameaça à segurança nacional dos EUA. Tanto Magsamen como Jacobson estão na equipe de transição de Biden.


Além das figuras apresentadas existem tantas outras que compõem a equipe de transição de Joe Biden. Entre elas Derek Chollet e Ellison Laskowski, altos funcionários do German Marshall Fund e lobistas de ações militares contra a Rússia; Greg Vogle, ex-chefe da estação da CIA no Afeganistão e acusado de cometer crimes de guerra; Marty Lederman, professor de direito que redigiu a base legal para uso de drones para extermínio de pessoas sem julgamento; Barbara McQuade, procuradora responsável pela deportação do ativista antiguerra palestino estadunidense Rasmea Odeh para ser torturado pelas forças israelenses; Neil MacBride, procurador que promoveu a Lei de Espionagem no governo Obama; 


Diante do passado dos membros da equipe de transição de Joe Biden, conclui-se que caso sejam incorporados ao governo presenciaremos para os próximos 4 anos restrições de direitos civis dentro dos EUA e guerras sujas nos países estrangeiros.

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Governo Boric será de direita besuntado em um esquerdismo de fachada

No dia 11 o novo presidente do Chile tomou posse, após 4 anos de governo do direitista Sebastián Piñera. A imprensa internacional deu muito ...