quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Editorial 01/10/2020 - A inelegibilidade de Crivella no Rio de Janeiro e a máquina eleitoral burguesa


No dia 21 de setembro, o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (Republicanos) foi julgado como inelegível pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro. As acusações contra Crivella são relativas ao caso da Companhia Nacional de Limpeza Urbana (Comlurb) da qual o prefeito, em 2018, utilizou cerca de 51 carros e trabalhadores da companhia para organizar um comício na quadra Estácio de Sá, apresentando seu filho, Marcelo Hodge Crivella e Alessandro Costa, ambos como candidatos à deputado federal, usando, assim, a empresa e recursos públicos para promoção política de seus familiares e amigos. Outro caso envolve a funcionária da Comlurb, Márcia, quem permitia aos líderes religiosos e seus fiéis passarem na frente da fila do SUS para operação de cataratas e varizes.

O que significam esses acontecimentos na luta política? O senso comum, os fatos tomados isoladamente, acontecimentos como esses são entendidos como meras ocorrências, despretensiosas, deslocadas de um sentido político, deslocadas da luta política, da luta entre grupos e de classes.

Por que o senso comum nos faz acreditar nisso é tema para um estudo aprofundado. Nos limitemos, pois, em direcionar politicamente esses acontecimentos da época eleitoral. É o que basta.


A perseguição política de Crivella


Nosso jornal não defende a direita golpista e os bolsonaristas. Mesmo assim, há que se registrar o modo de como os conflitos políticos aparecem na superfície jurídica. 

O caso do prefeito Crivella evidencia uma crise no interior da burguesia na cidade carioca. Crivella, como representante da ala bolsonarista e religiosa, e o candidato Eduardo Paes (DEM), representante da ala da direita golpista. 

Ambos estão sendo processados pela justiça, mas nestas eleições, a tendência é a vitória da direita golpista, abarcando o segundo maior eleitorado do país, logo atrás da cidade de São Paulo. 

A tendência geral do regime político controlado pela burguesia segue esse itinerário: cada vez mais a retirada da ala bolsonarista dos centros de poderes e a substituição pelos políticos da direita golpista que conseguem estabelecer maiores conexões com os grupos locais das milícias, bancos e grandes empresas.

Como a direita golpista não tem base eleitoral alguma (base consciente, aquela de convicção política; diferente da população em geral que vota porque foi influenciada pela mídia), fez uso da extrema-direita bolsonarista para mobilizar a classe média e setores mais despolitizados para que a direita, em geral, mantivesse o controle da grande máquina estatal e de suas filiais. As eleições de 2018 mostraram isso: govenadores, deputados e senadores da direita golpista aproximaram-se do bolsonarismo para que, de 2019 em diante essa aliança fosse cada vez mais desfeita. Isso resultou na política da Frente Ampla contra o Bolsonaro: a aliança da esquerda com a direita para sufocar o bolsonarismo, o que, na realidade, satisfaz apenas o interesse da direita, porque atrai os esquerdistas para eleger candidatos da direita sem quaisquer contraposições políticas e denúncias da direita.


Judiciário: ferramenta burguesa de controle de qualidade


“Confiar nas instituições democráticas e na Constituição”. Se houvesse alguma religião que aliena a esquerda da compreensão política, esse seria o Verbo. No estudo político de toda religião, importa saber quem é o alto clero que profetiza o Verbo: a direita golpista.

De alguma forma, quando um político ou um assunto político passa pelo judiciário e é julgado por ele, misteriosamente a questão política se purifica, se santifica e torna-se apolítica, constitucional, imparcial, ungida pela vontade do povo, vontade esta que “criou” as instituições “democráticas”. Ocorre que o judiciário em todos os tempos foi influenciado direta e indiretamente pela burguesia. De alguma forma, também, os juízes, desembargadores e ministros se purificam da influência política: a toga representa a corporificação do Espírito Santo e, de alguma forma, o milagre da mutação das essências, a água passa a virar vinho sagrado.

O impeachment da presidente Dilma Roussef em 2016 e a Operação Lava-Jato às vistas políticas, representou a atuação direta do judiciário em abrir as portas para que a direita golpista e bolsonarista alçasse ao poder. O Procurador Deltan Dallagnol e o ex-juiz federal de Curitiba, Sérgio Moro, naquela época, articularam, aos olhos de todos, a manobra política de prender o ex-presidente Lula e, assim, torná-lo inelegível para que Jair Bolsonaro tornasse presidente. As informações hoje públicas mostrando a relação dos juízes e promotores da Lava-Jato com o FBI norteamericano apenas evidenciam o caráter político e a influência do imperialismo sobre as instituições “democráticas”.


Se está tudo dominado, o que fazer?


Não está tudo dominado. O modo de politização para uma política popular está no trabalho dos partidos de esquerda e seus agrupamentos políticos, comitês de luta, jornais etc. O panorama político está mostrando uma crise no interior da direita e a utilização da esquerda para que a estabilidade do regime político direitista seja convalidado: ora, se a esquerda se alia à direita contra o Bolsonaro, não há oposição à direta e as eleições são uma comprovação da falha política da esquerda.

Se mesmo entre os partidos da burguesia eles usam o judiciário uns contra os outros, isso será realizado, quando for preciso, contra a esquerda, como foi o caso da prisão do ex-presidente Lula e do impeachment da ex-presidente Dilma. Quando menos se espera, a esquerda perde seu poder político porque confia nos lobos e nas suas instituições.

Nesse terreno eleitoral e judicial incerto, a esquerda deve realizar permanentemente, desde agora e para depois das eleições, o trabalho constante de denúncias da direita golpista e do bolsonarismo com o objetivo de manter mobilizada a população contra os ataques dos prefeitos, governadores e do presidente. A via da esquerda sempre foi nas ruas, mobilizando a população e politizando. Abandonar o terreno das ruas, a única democracia popular possível, foi o grande erro político da esquerda, que influenciará, inclusive, na sua derrota eleitoral nos municípios. Aparecer enquanto político numa região eleitoral a cada 4 anos é tática da burguesia, a esquerda de verdade está sempre presente, sempre lutando a luta do povo.

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