terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

O imperialismo sempre foi o patrocinador do terrorismo jihadista: entrevista de Zbigniew Brzezinsk para o Le Nouvel Observateur.


Em janeiro de 1998 a revista francesa Le Nouvel Observateur publicou uma entrevista com o conselheiro de segurança nacional do governo de Jimmy Carter: o polonês, Zbigniew Brzezinsk, que foi um dos mais importantes teóricos anti-comunistas da história, sendo responsável direto por um conjunto de eventos importantes que levaram ao colapso da URSS e a formação do “Império do Caos”. Nessa entrevista, Brzezinsk fala com todas as letras algo que já é sabido por quase todos: que utilizou-se da estrutura militar e da inteligência dos EUA para a criação do jihadismo internacional com o propósito de servir os interesses imperialistas de desestabilizar e derrubar regimes políticos comunistas e nacionalistas. Isso derruba a tese difundida no ocidente de que islâmicos são naturalmente terroristas. Abaixo vai a entrevista traduzida para o português e publicada no Brasil em primeira mão pelo Farol Operário.


Nouvel Observateur: O ex-diretor da CIA, Robert Gates, declarou em suas memórias (From the Shadows), que os serviços de inteligência americanos iniciaram a ajuda aos mujahidin, no Afeganistão, 6 meses antes da intervenção soviética. Nesse período, você foi conselheiro de segurança nacional do presidente Jimmy Carter. Você, portanto, desempenhou um papel neste caso. Isso é correto?

Zbigniew Brzezinsk: Sim. De acordo com a versão oficial da história, a ajuda da CIA aos Mujahadeen começou em 1980, ou seja, depois que o exército soviético invadiu o Afeganistão, em 24 de dezembro de 1979. Mas a realidade, secretamente guardada até agora, é completamente diferente: de fato, foi em 3 de julho de 1979, quando o presidente Carter assinou a primeira diretriz de ajuda secreta aos oponentes do regime pró-soviético em Cabul. Nesse mesmo dia escrevi uma nota ao presidente na qual lhe explicava que, em minha opinião, essa ajuda iria induzir uma intervenção militar soviética.


Nouvel Observateur: Apesar do risco que existia, você foi defensor dessa ação secreta de Jimmy Carter. Você desejava esta entrada soviética na guerra e procurou provocá-la?

Zbigniew Brzezinsk: Não é bem isso. Não pressionamos os russos a intervir, mas conscientemente aumentamos a possibilidade de que o fizessem.


Nouvel Observateur: Quando os soviéticos justificaram sua intervenção militar afirmando que pretendiam lutar contra um envolvimento secreto dos Estados Unidos no Afeganistão, as pessoas não acreditaram. No entanto, havia uma base de verdade. Você não se arrepende de nada hoje?

Zbigniew Brzezinsk: Arrepender de quê? Essa operação secreta foi uma excelente ideia. Teve o efeito de atrair os soviéticos para a armadilha afegã e você quer que eu me arrependa? No dia em que os soviéticos cruzaram oficialmente a fronteira, escrevi ao presidente Carter: Agora temos a oportunidade de dar à URSS sua guerra do Vietnã. Na verdade, por quase 10 anos, Moscou teve que travar uma guerra insuportável pelo governo afegão, um conflito que trouxe a desmoralização e, finalmente, a dissolução do império soviético.


Nouvel Observateur: E você também não se arrepende de ter apoiado o fundamentalismo islâmico, de ter dado armas e conselhos a futuros terroristas?

Zbigniew Brzezinsk: O que é mais importante para a história do mundo? O Taleban ou o colapso do império soviético? Alguns muçulmanos agitados ou a libertação da Europa central e o fim da guerra fria?


Nouvel Observateur: Alguns muçulmanos agitados? Mas já foi dito e repetido pelos EUA que o fundamentalismo islâmico representa uma ameaça global, hoje.

Zbigniew Brzezinsk: Bobagem! Também foi dito que as nações ocidentais tinham uma política global em relação ao Islã. Isso é estupidez: não existe um islã global. Olhe para o Islã de maneira racional, sem demagogia ou emoção. O islã é a religião líder do mundo, com 1,5 bilhão de seguidores. Mas o que há em comum entre o fundamentalismo da Arábia Saudita, a monarquia moderada do Marrocos, o militarismo do Paquistão, o Egito pró-ocidente ou o secularismo da Ásia Central? Não há nenhuma diferença daquilo que une os países cristãos ocidentais...

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