quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Vacinação Obrigatória e o Desgaste Ideológico Da Esquerda



A questão da COVID-19, para os políticos e as super empresas, não passam de um grande negócio. Bolsonaro e Dória, em meio a mortes e contaminações incessantes, travam uma disputa de interesses comerciais e políticos, com uma fachada sanitária, relacionada às vacinas: qual matéria-prima deve ser importada? Estas devem ser aplicadas de modo obrigatório ou não?

Como panorama geral, a ANVISA autorizou a importação da vacina chinesa e esta já está sendo produzida pelo BUTANTAN, na qual o Governador de São Paulo planeja instituir aplicação compulsória à população. Pelos motivos mais questionáveis possíveis, Bolsonaro repudia estas medidas, tanto a procedência da vacina, por conta do seu "rabo preso" com o atual presidente dos Estados Unidos e inimigo comercial da China, Donald Trump, quanto a sua obrigatoriedade, que dá a entender possuir um caráter puramente político: um ataque moral ao seu futuro concorrente à Presidência da República.

Quanto à questão da obrigatoriedade da vacinação, apesar dos motivos torpes que leva Bolsonaro à ir contra, e esta ser uma medida que mantém uma aparência de interesse puramente social, não podemos jamais deixar de analisar a situação por um viés burocrático, principalmente em um momento de escassez de lideranças representativas do povo. E por essa perspectiva, fica claro que uma imposição obrigatória, de algo que cerca de 30% da população ainda não possui esclarecimento definitivo a respeito, é uma medida autoritária.

São em situações como essa que podemos perceber o caráter definitivamente burguês da classe média esquerdista, onde eles sentam em seu trono da sabedoria e se sentem no direito de julgar a classe trabalhadora como um rebanho de gado. Seu principal contra-argumento é a situação de exceção da saúde pública. Entretanto, desde que se trate do povo, jamais, em hipótese alguma, a pauta deixará de ter seu cunho social. E em um panorama capitalista, jamais deixará de ter a dominação de classes em seu contexto. 

A Revolta da Vacina de novembro de 1904, no Rio de Janeiro, que hoje em dia é lembrada como piada por essa vertente da esquerda, é uma experiência que devemos levar em conta nesse momento pois, na verdade, o caráter obrigatório da vacinação, estipulado pelo médico Osvaldo Cruz, serviria de pretexto para dificultar o acesso da classe trabalhadora à serviços básicos, condicionando estes, como escolas, empregos, viagens, hospedagens, casamentos, à uma pré-apresentação do comprovante de vacinação por parte da pessoa requerente. Ou seja, mesmo em uma campanha sanitária, a burguesia é capaz de usar de suas artimanhas para sorrateiramente atacar o povo e restringir seus direitos, dando brecha para exercer o arbítrio de forma autoritária. Portanto, não só é oportuno como necessário analisar o caso atual de uma maneira político-social em paralelo com a questão da saúde.

Percebemos que a esquerda tem uma grande facilidade de perder o seu norte em situações complexas, muito pela falta de uma representatividade consistente. A impressão que dá é que essas representatividades fazem questão de entrar no jogo político pessoal, utilizando a arma do discurso de uma maneira cada vez mais despido de ideologia. Quando Valério Arcary, dirigente do PSOL, defende publicamente a vacinação obrigatória, alegando a supressão do direito da maioria sobre o da minoria, ele abdica de qualquer alinhamento ideológico possível com a esquerda ao invocar um argumento fascista, exclusivamente para combater Bolsonaro. Vemos movimento semelhante também nas eleições dos Estados Unidos, com o maciço apoio esquerdista à Joe Biden, um dos patronos do imperialismo "yankee" do século XXI e que indica uma possível guerra na vizinha Venezuela, o que parte de uma leitura política rasa, no simples intuito, novamente, de atacar Bolsonaro, dessa vez de maneira indireta, ao repudiar seu "comparsa" Donald Trump. Isso, como já não é mais novidade, enfraquece o debate e desprestigia a esquerda, a aproximando cada vez mais das práticas direitistas.

A obrigatoriedade da vacinação é inviável pelos fatores expostos, além de empoderar a burguesia ao concedê-la arbítrio para, no fim, poder decidir usá-lo como bem entender, que convenhamos, não será em prol do povo. Seu proceder no decorrer da pandemia, e as consequências que isso acarretou (mais de 150 mil mortes)  já denuncia seu caráter. Os próprios movimentos anti-vacinas, de forma geral, ganham respaldo na ausência de campanhas de conscientização feitas pelo Estado. Por fim, as vacinas devem ser distribuídas de maneira universal, sem discriminação e de maneira gratuita.

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