quinta-feira, 9 de julho de 2020

A grande crise econômica se aproxima

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A economia enquanto área do conhecimento surge com a denominação de economia política. A economia política entendia a economia como algo intrínseco à política e a própria sociedade. Foi a economia política que viabilizou as reflexões de economistas da escola clássica, como Adam Smith e David Ricardo. Estes preceitos foram fundamentais para o desenvolvimento do processo de industrialização na Europa e ascensão do Império Inglês. Diante da profunda exploração e desigualdade, a economia política foi terreno árido para o surgimento de uma crítica à ela que se materializou nas obras de Karl Marx e Friedrich Engels. Essas teorias criaram na Europa um ambiente propício para a vitória da revolução proletária. Foi nesse contexto que uma economia de matriz inglesa tenta separar economia de política a partir do que ficou conhecido como escola neoclássica, cuja primeira vertente mais influente foi o utilitarismo. Para o utilitarismo, economia não tinha a ver com política e muito menos com luta de classes.

Desde então o núcleo da hegemonia capitalista foi sendo transferido para os Estados Unidos e foi sendo construído um capitalismo com bases cada vez menos industriais e cada vez mais especulativas. Nesse sentido, existiram um conjunto de momentos da história que foram importantes. Em 1971, os EUA rompe unilateralmente com os acordos de Bretton Woods, permitindo que o dólar se tornasse uma moeda completamente fiduciária e em 1973 faz uso do primeiro choque do petróleo para construir sua hegemonia financeira internacional baseada nos petrodólares e em um conjunto de bancos internacionais de investimentos. Intensificam-se assim as transações acionárias em bolsas de valores e a city londrina e de Nova York (Wall Street) passam a concentrar a centralidade desse sistema. Tudo isso cria um grande cassino mundial, onde os ganhos do capital estão mais associados a transações especulativas do que de fato atividades produtivas que necessitam de organização racional e uso da força de trabalho. 

Quando na década de 1980 o Presidente Reagan, em colaboração com Margareth Thatcher, dá continuidade e aprofunda as políticas já praticadas por Jimmy Carter e simbolizadas na figura do Presidente do Federal Reserve, Paul Volcker, o processo de financeirização do sistema capitalista toma uma aceleração nunca vista antes. O período ficou conhecido como das Reagonomics. Esse processo que aconteceu em paralelo a uma forte defesa da ideologia neoliberal implicou em privatizações, desmantelamento de sindicatos e maior protagonismo do mercado. FMI, Banco Mundial e demais organismos financeiros internacionais comportaram-se como verdadeiros relações públicas dos interesses do capital financeiro internacional exigindo à todo o terceiro mundo a implementação de políticas econômicas neoliberais.

Desde então aconteceram diversas crises e um conjunto de acontecimentos importantes. O colapso da URSS permitiu aproximadamente dez anos de desfrute desse capital especulativo internacional sobre o espólio das antigas repúblicas soviéticas. Com o esgotamento das possibilidades que ali se criaram, o sistema começa a presenciar uma sucessão de crises financeiras internacionais, como as que aconteceram em 1994 (crise tequila), 1997 (crise asiática), 1998 (crise russa) e 2001 (crise argentina). Entre 2007 e 2008 inicia a pior e mais profunda dessas crises, marcada pelo colapso do sistema de endividamento público europeu e dos modelo de empréstimos baseados em garantias imobiliárias e em contratos derivativos nos Estados Unidos.

O governo estadunidense e a governança econômica do bloco europeu optou naquele instante por não fazer reformas estruturais nesse sistema. Ao contrário, o Federal Reserve criou diversos mecanismos de emissão de dinheiro e de valores digitais que beneficiavam bancos, grandes corporações e agentes do sistema financeiro. Em 2020 as consequências dessas medidas não efetivas se aproximam na forma de crise. Toda imprensa mainstream se esforça ao máximo para colocar na cabeça das pessoas que a razão para essa crise é o isolamento social relacionado à pandemia de Corona vírus. No entanto, isso é insuficiente para explicar a complexidade e profundidade do que está por vir. Há indícios de que existe no mundo hoje uma dívida de aproximadamente 4 quadrilhões de dólares, sendo essa impagável. 

Os relatórios do FMI atualizam as quedas do PIB mundial para números cada vez piores. Soma-se a isso o descompasso generalizado à nível mundial no que diz respeito à políticas econômicas, o que é ilustrado muito bem na presidência de Donald Trump nos EUA. Eventos como a falência da Wirecard, gigante corporação alemã do setor financeiro, por uma fraude contábil bilionário anuncia o que está por vir ainda no segundo semestre deste ano: uma quebra generalizada de bancos e demais companhias do setor financeiro.  Diversos analistas consideram que essa deverá ser a mais profunda e longínqua crise da história do capitalismo, podendo inclusive impactar e alterar diversos dos paradigmas sociais e políticos. Como não poderia deixar de ser e a exemplo de outras crises que aconteceram antes, o que veremos é a miséria, morte, violência e falta de dignidade ainda maiores para a classe trabalhadora.


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