sexta-feira, 22 de maio de 2020

Editorial 18/05/2020 - A situação da esquerda e o golpe militar

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Se pudéssemos criar um mapa da situação do Brasil, seria mais ou menos assim: O governo se depara com a crise do coronavírus, e, na sua infinita disposição de agradar a burguesia, implementa uma política fajuta de quarentena, que não protege a maioria da população, já que quase todos os tipos de trabalho são caracterizados como "serviços essenciais". Junto a essa farsa, oferecem um auxílio também fajuto de 600 reais, que por si só já é uma piada, mesmo se não considerarmos que grande parte da população não tem acesso a esse auxílio por não ter internet, ou mesmo, não ter CPF.

Essa política do governo vai levar o povo a escolher entre trabalhar e morrer do vírus, ou não trabalhar e morrer de fome. Com isso, surgem contradições: o governo, quem diria, passa a ser criticado. Protestos começam a surgir, lideranças da esquerda, mesmo que timidamente, passam a criticar o governo. 

Mourão, vice-presidente desse governo, e, também, general das Forças Armadas Brasileiras, defendeu, em seu artigo "limites e responsabilidades", publicado pelo Estadão, que essas contradições, essa "desunião" do executivo com os outros poderes e do governo federal com os estados, que serão responsáveis por levar o país ao desastre, e que, para vencer o coronavírus, deve ser respeitada a autoridade do poder executivo federal. Esse texto é uma aparente defesa do governo Bolsonaro frente às contradições e rachaduras que ele enfrenta, na crise. Contudo, é também uma sinalização de que os militares podem intervir, para assegurar a autoridade do poder executivo. Mourão, com esse texto, se mostra capaz de eliminar as contradições do país, para, assim, supostamente, vencermos o vírus - o que se traduz, em última análise, em repressão e ditadura. Não é possível vencer o vírus assim, já que a postura do governo federal não vai mudar: continua sendo a mesma disposição de agradar a burguesia, às custas das vidas do povo trabalhador, com quarentenas fajutas e auxílios magérrimos, mas, dessa vez, com ditadura militar.

Ao mesmo tempo que as contradições e os protestos surgem, e ao mesmo tempo que aparece no horizonte a possibilidade de convulsão social, a esquerda cobre os próprios olhos. A resposta para todas as perguntas é "fique em casa", mesmo quando a pessoa está sendo, literalmente, obrigada a pegar ônibus todo dia e ir trabalhar, para não cair no desemprego e na miséria. A grande organização da esquerda brasileira, mais especificamente, suas direções, estão dispostas a fazer vista grossa para a mortandade que está por vir. 

Toda organização, protesto, mesmo grupos de caridade e auxílio mútuo, devem ser impulsionados e organizados pela parte da esquerda que está disposta a lutar pela vida do povo. A politização e a organização desses movimentos é o único caminho para enfrentarmos a crise. Tais movimentos devem se constituir entendendo a importância dessa organização, para que não se tornem movimentos selvagens, como no Chile ano passado, ou na Bolívia, ou mesmo em várias situações no Brasil: ocorre uma convulsão social, a esquerda enfia a cabeça embaixo da terra, e essa explosão popular, por ser desorganizada, acaba fracassando e arrefecendo. 

Não podemos negar a realidade, não podemos imaginar que a classe trabalhadora está amparada na quarentena ou no isolamento social. O governo vai deixar a epidemia de COVID-19 matar o povo, e nossa única esperança é nutrir, organizar, impulsionar e orientar a rebelião da classe trabalhadora.

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