quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

O Congresso de Unificação e os Economicistas: Prefácio à obra "O Que Fazer?" de Vladimir Lenin


Vladimir Lenin foi um dos grandes revolucionários e expoentes do marxismo da história. Sua obra teórica e prática resultou na maior mobilização proletária da modernidade e no maior exemplo concreto de modelo socialista: a União Soviética.

Porém, assim como inúmeras conquistas históricas, esta também teve origem determinante de uma desilusão ou imprevisto: no caso, o fracasso do Congresso de Unificação.

No fim do Século XIX, a Rússia ainda vivia um período arcaico, mas com uma intensa mobilização operária, que organizava greves e movimentos sindicais. Isso já concomitantemente à uma prática mais consolidada da social-democracia. 

Todo esse contexto culminou no Congresso supracitado, que ocorrera em Zurique, em 1901, no intuito de ratificar uma união das frentes social-democráticas russas em vigência. Prática que fora logo abortada pelos marxistas mais ortodoxos (Lenin, Martov, Plekhanov, Zassulitch...) por conta de propostas de aditamentos oportunistas à resoluções de congressos anteriores. Sendo assim, esse Congresso foi importante para delimitar a parcela revolucionária, ligada ao Partido Social-Democrata, representada pelo jornal Iskra, e a parcela reformista, pejorativamente nomeada por Lênin de "Economicista", representada principalmente pela revista Rabótcheie Dielo. Posteriormente, após o declínio do "Economicismo", este se reinventaria na forma de Menchevismo, liderado por alguns dos militantes do próprio Iskra dessa época, como Martov e Plekhanov.

Assim, Lenin se vê obrigado a mudar o tom de sua obra. Se em "Por Onde Começar?" têm se um artigo didático e direto a respeito do direcionamento partidário da social-democracia (caráter e conteúdo da agitação, tarefas de organização e plano de formação de um partido nacional), "O Que Fazer?", sem perder o norte teórico da obra anteriormente citada, acaba constituindo-se como uma Polêmica: consagrado método marxista no campo teórico, que ajuda a delimitar o inimigo e denunciar seus interesses deturpados. Este, claro, tratava-se dos Economicistas, rotulados assim não por uma minuciosa investigação de suas coincidências, mas como uma medida profilática, para que estas células reformistas não contaminem outras dentro do partido, pois, no fim, mais importante do que um reconhecimento científico das novas tendências é o protagonismo da luta de classes. Ao estabelecer concessões à ideologia burguesa dentro do partido, quando menos se espera, esta já o dominou. Lenin inclusive cita o exemplo francês de Millerand, que abraçou o reformismo do teórico alemão Bernstein e culminou num governo de caráter autoritário à camada trabalhadora.

Nesses moldes, Lenin discorre nos capítulos do livro duras críticas ao caráter reformista-burguês dos Economicistas, muito por conta de sua defesa ao Espontaneísmo, que nada mais é do que a defesa de que a classe trabalhadora tem totais condições de guiar-se de forma autônoma ao seu destino revolucionário. Esta constatação se verifica oportunista pois, sem um aporte teórico revolucionário que, convenhamos, não se encontra no senso comum em nenhuma sociedade capitalista, o operário tende a ser dominado pelo status burguês vigente, que se materializa, no campo da esquerda, na política trade-unionista: os operários são incentivados a se preocupar exclusivamente com sua emancipação econômica, através de melhorias individuais de trabalho, lutas sindicais e alienação política. Os Economicistas travam uma disputa teórica com os revolucionários ("Revolução do dogma ou da vida!") no intuito de garantir seu protagonismo político, mantendo o trabalhador à reboque, o enganando com argumento falaciosos como de que "a política tende a seguir a economia". Tudo isso sob a tutela da "Liberdade de Crítica": jargão economicista que simboliza a liberdade de se formular novas teorias "modernas" ao "engessado" marxismo, que na verdade se mostraram apenas como reinvenções farsescas preestabelecidas do reformismo burguês. A "Liberdade de Crítica", dessa maneira apresentada, é uma ausência de princípios e uma renúncia teórica, à qual revolucionário nenhum pode se dar o direito! Este deve estar preparado para identificar a infiltração anti-revolucionária ainda que bem disfarçada.


Demais contradições como a do funcionamento da imprensa revolucionária, das greves, da organização partidária, são apontados e também serão tratados no decorrer do Curso sobre a Obra organizado pelo Farol Operário, que terá início nesta Quarta-Feira, em Fernandópolis, no Sindicato dos Trabalhadores Rurais, às 19hrs. O evento também terá transmissão online via Google Meet.

Inscrições:farol.op17@gmail.com ou forabolsonaro.fernandopolis@gmail.com

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