quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Introdução à história do imperialismo no oriente médio: o acordo sykes picot



O Oriente Médio, até o início da primeira guerra mundial, em 1914, era dividido entre duas esferas de influência: 

A primeira se trata do Império Otomano, o "doente" da Europa, que estava em decadência há séculos, tendo perdido, neste momento, já vários territórios para potências imperialistas: a Argélia e a Tunísia para a França; a Líbia para a Itália; o Chipre e o Egito para o Império Britânico; a Bósnia para o Império Austro-Húngaro, sem contar as várias guerras contra a Rússia, nas quais o Império Otomano se viu forçado a ceder a independência à Grécia, Sérvia, Romênia, e Montenegro. Em 1912 e 1913, foram travadas as Guerras dos Balcãs, nas quais o Império Otomano perdeu mais territórios para esses países, e nas quais a Bulgária conquistou sua independência. Portanto, o império era um verdadeiro doente na Europa, em declínio, cujos territórios que ainda possuía no Oriente Médio (Iraque, o Levante, e parte da Península Arábica) eram vistos como futuros espólios pelos abutres, que eram as potências imperialistas da época, no caso, França e Inglaterra.

A outra potência na Arábia, na época, era o Império Britânico, que controlava a parte sul da Península Arábica, o Kuwait, e o que hoje são os Emirados Árabes Unidos, Catar e Bahrein: a potência imperialista mais poderosa e prestigiada do mundo, na época, controlando 25% de todo o território e da população mundial, além de ser a força industrial mais proeminente da época. Com as guerras mundiais, esse império viria a perder essa posição para os Estados Unidos, mas manteve grande parte de sua influência imperialista. 

A Primeira Guerra Mundial, chamada por Lênin de guerra de rapina, foi uma guerra, em parte, para roubar esses territórios árabes do Império Otomano: De um lado, vários países, principalmente Itália, Japão, Sérvia, Montenegro, Romênia, Rússia, Império Britânico, França e Estados Unidos, sendo que estes 3 últimos eram potências imperialistas bem estabelecidas e estavam no poder há mais de um século. De outro, o imperialismo secundário: potências que haviam recentemente entrado no "clube dos países imperialistas", ou eram decadentes: justamente por isso, sempre enfrentaram grave competição dos países mias estabelecidos. No caso, Áustria, Império Otomano, Bulgária e Alemanha. Essas potências foram aniquiladas, resultado que foi óbvio, dado o poder global do imperialismo britânico, francês e americano, que são, inclusive, hegemônicos até hoje. 

No caso da guerra no Oriente Médio, a tríplice Entente se aproveitou de movimentos nacionalistas e independentistas Árabes. Os Ingleses prometeram que, caso os Árabes derrotassem os turcos, teriam um país unificado, uma Arábia independente, ao mesmo tempo que faziam um acordo secreto com a França, o acordo Sykes-Picot: a divisão da região entre os dois países. Iraque e Jordânia e Palestina para os britânicos, e Líbano, Síria e a parte sul da Turquia para os franceses. 

Essa parte da Turquia que foi prometida para os franceses foi conquistada de volta na guerra de independência turca, por Mustafa Kemal Atatürk, junto com territórios que haviam sido prometidos à Grécia e Albânia.

Quanto ao Iraque, o domínio britânico do país nunca se consolidou e, após uma guerra sangrenta na qual Winston Churchill bombardeou o país, obteve sua independência em 1932, apesar de concessões aos ingleses que acabaram sendo, efetivamente, a continuidade do domínio colonial do país.

Quanto à Palestina, foi feita a Declaração Balfour, que criou as bases para a futura formação de Israel, Estado artificial, fantoche do imperialismo, que foi fundado no genocídio dos palestinos. 

Na Jordânia, foi instalado um rei-fantoche pelos britânicos: Abdullah I, e seu descendente, Abdullah II, o qual reina o país nos dias de hoje, ainda alinhado ao imperialismo.

O Líbano e a Síria se tornaram verdadeiras colônias francesas. A Síria, após sua independência, em resumo, se opôs ao domínio imperialista na região e a Israel, chegando até a tentar uma união com o Egito sob Nasser, com influências pan-arabistas. O governo atual, de Bashar al-Assad representa uma continuidade dessa tendência.

Um importante líder das revoltas contra os Otomanos na Primeira Guerra Mundial foi Hussein bin Ali, a quem foi prometido o Reino Árabe, que teria como território toda a península, e o Levante: De Aleppo, na Síria, até Aden, no Yemen. Traído pelos imperialistas, pelo acordo Sykes-Picot (que foi, inclusive, exposto pelos Bolcheviques), Hussein foi declarado como rei do Hijaz, a região ocidental da Península Arábica, que acabou sendo anexada pela Arábia Saudita. A casa Saud, aliada do imperialismo britânico, foi responsável pela conquista do que hoje é a Arábia Saudita. O Hijaz, e o Nejd, parte oriental do país, teve apoio do imperialismo, pois lutou contra o curto reinado de Hussein, que se recusou a ratificar o Tratado de Versailles e a reconhecer a entrega da Palestina aos sionistas, A invasão e anexação do Hijaz por Abdul-Aziz Al Saud foi ratificada, finalmente, em 1927, com o tratado de Gidá (Jedda). 

Todos esses países, produtores de petróleo, foram, de um modo ou outro, incorporados ao domínio imperialista, que detém uma grande influência na região até hoje. Essa história pode ajudar a explicar os conflitos posteriores e dar um pano de fundo para o tema.

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