sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

O Impeachment De Bolsonaro Como Consolidação Do Golpe Burguês


Nesses últimos dias podemos perceber, novamente, uma grande movimentação midiática denunciando a negligência do governo Bolsonaro quanto o gerenciamento da crise pandêmica, além de uma retomada ao apelo do impeachment do presidente nas redes sociais. Não é novidade para ninguém que, desde o início, o governo atual é fascista, genocida e entreguista, mas porque essa revolta, de aparência popular, surge e ressurge apenas em determinados momentos, sem nenhum forte caráter consolidado? E porque só agora aparece a tendência da Câmara considerar a abertura do processo de impeachment?

O cerne das respostas destas questões está no fato de que estas movimentações não são totalmente espontâneas por parte das massas, mas sim, conta com o poder de influência do aparato burguês (a grande mídia e os partidos de direita clássicos) para concluir a transição do governo atual a um modelo neoliberal mais brando e que, ao mesmo tempo, satisfaça a burguesia e consiga agradar minimamente a esquerda menos politizada.

Desde o impeachment de Dilma Roussef por conta das Pedaladas Fiscais (ato ínfimo perto do genocídio fascista atual), foram aplicadas diversas medidas jurídico-midiáticas mais incisivas com o intuito de, primeiramente, desmoralizar a esquerda, como a prisão de Lula e o grande esquema das Fake News no período eleitoral de 2018. Bolsonaro surge então não como um representante ideal dos interesses burgueses, mas como peça-chave para a comoção das massas e o embate ideológico da direita contra a esquerda. Já em seu mandato, Bolsonaro tem cortado ou limitado relações internacionais importantes de cunho comercial e comprado briga com setores da Câmara e da grande mídia, fatores que constituíram a atual polarização Extrema Direita X "Centrão" (a direita clássica junto à esquerda burguesa) e que configura a burguesia como a principal interessada no impeachment, visto que a esquerda ainda se encontra desmoralizada e neutralizada. 

Daí então surge o segundo passo do golpe: isolar Bolsonaro no Congresso e atacá-lo, via grande mídia, em pontos estratégicos, que não coincidam com a agenda burguesa (como o sucateamento das leis trabalhistas e falta de subsídios à classe trabalhadora em meio a crise). Dessa forma, a questão da pandemia é extremamente oportuna para insurgir os chamados "políticos-científicos", como Doria: os novos favoritos da burguesia para as próximas eleições, que ao se colocarem superficialmente acima da direita e da esquerda, e a favor da ciência e da saúde (também superficialmente), ganham apoio da direita liberal e da esquerda, munida de oportunismo eleitoreiro por parte de seus representantes políticos, e de desespero por parte da população.

Assim, detendo o monopólio midiático, a burguesia dá a tona das movimentações da classe média enquanto esta, sob sua clássica soberba intelectual, nega tal influência em vista de afirmar um suposto caráter revolucionário nos protestos de impeachment. Porém, a manipulação é nítida quando percebemos o teor despolitizante e anti-dialogante das manifestações. A disputa ideológica entre Direita X Esquerda foi deslocada para um âmbito moral, onde esta última, inflada pela vitória de Joe Biden (o Bem) sobre Trump (o Mal) e pelo desgaste de Bolsonaro (a ignorância) perante os representantes do "Centrão" (o "bom-senso"), se sente a vontade e no direito de adotar uma postura tão arrogante e intransigente quanto a Extrema-Direita. Trata-se do novo exército a serviço da burguesia para 2022, assim como os eleitores bolsonaristas foram em 2018. Tudo isso enquanto a Câmara faz sua parte e atua mais incisivamente, já que, caso o impeachment do presidente e do vice ocorra nos últimos dois anos do mandato, o substituto é escolhido pelo próprio Congresso, que já deve ir preparando o terreno, nesse período, para o candidato definitivo da burguesia nas eleições.

Devemos sempre estar atentos as movimentações da classe média pois, em geral, esta está inflada de oportunismo, despolitização e manipulação midiática. Temos como exemplo justamente esse surgimento e desaparecimento dos protestos de impeachment de Bolsonaro, sempre de acordo com o desejo de satisfação de algum interesse pontual da burguesia.


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