quinta-feira, 28 de maio de 2020

Estudos sobre o Capital Volume I — nº 2

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2.O duplo caráter do trabalho representado nas mercadorias


Marx aborda, nesse item, em primeiro lugar, a transformação na divisão social do trabalho operada pelo capitalismo. O trabalho sempre foi dividido, nas sociedades humanas, socialmente. Contudo, no capitalismo, essa divisão adquire um caráter mais específico: a divisão social do trabalho útil. 

Trabalho útil é o trabalho dedicado à produção de algo que possua valor de uso. Ou seja, não é qualquer trabalho que é útil, apenas aquele destinado à produção da mercadoria. Ademais, para que haja o processo de troca, o trabalho útil precisa ser dividido socialmente: as mercadorias produzidas devem ser diferentes, umas das outras, e, daí, terem trabalhos diferentes para suas produções. Esse trabalho útil é dividido socialmente.

Agora, cabe abordar o famoso exemplo sempre utilizado pela direita para "refutar" O Capital. Um buraco cavado no chão, por ser resultado do trabalho humano, teria valor? Não, a não ser que esse buraco tenha algum valor de uso, que possa ser inserido de alguma forma no mercado.

Marx explica como o trabalho, que atribui valor à mercadoria, nada mais é que a transformação de elementos da natureza - como o linho, em objetos com valor de uso - como o casaco. O elemento da natureza, por si só, não tem valor, pois o valor é apenas o trabalho dedicado à transformação daquele elemento em mercadoria. Tal é a natureza do valor, a medida do valor: a quantidade de trabalho humano dedicado à produção.

Mas qual trabalho? 

Voltemos ao exemplo do buraco no chão. Uma escavadeira é capaz de cavar tal buraco, por exemplo, em 10 minutos. E uma pessoa com uma pá, em 10 dias. Tais buracos no chão, teriam, portanto, valores diferentes? É certo que não. Entram, aqui, os conceitos de trabalho concreto - o trabalho dedicado, de fato a uma produção específica e individualizada; e trabalho abstrato: a média do menor tempo de trabalho necessário considerando-se todo o contexto social e econômico do local ou da sociedade em que se insere. Portanto, não importa se uma pessoa demora 10 dias para cavar um buraco com uma pá, se é possível o uso da escavadeira em 10 minutos, o valor desse buraco será o valor correspondente a 10 minutos.

Ou seja, o que Marx expõe, aqui, é que o trabalho que importa para se dimensionar o  valor da mercadoria é o trabalho abstrato, objetivamente considerado. O trabalho concreto é individual, é subjetivo, e não define valor algum por si só.

Isso também implica na consequente diminuição geral do valor das mercadorias com o avanço das forças produtivas, mesmo se grande parte dos produtores não tiverem como se beneficiar desse avanço. 

(Karl Marx, p. 119 - 124, da edição da boitempo do Capital, 2016).
(Karl Marx, p. 165 - 172, O Capital Volume 1, Boitempo, disponível em: http://www.gepec.ufscar.br/publicacoes/livros-e-colecoes/marx-e-engels/o-capital-livro-1.pdf/at_download/file, 2007).


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terça-feira, 26 de maio de 2020

Repressão: enfermeiros e médicos são presos no Rio de Janeiro por protestarem


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Não é de hoje que este periódico vem denunciando as medidas repressivas, ditatoriais que o governo está fazendo uso para calar a população em meio a crise da pandemia do coronavírus. Enquanto que a esquerda enxerga de maneira estreita as táticas de luta, judicializando e impedindo as carreatas dos fascistas do Bolsonaro, a população que luta por mais leitos, equipamentos de proteção e pelo Fora Bolsonaro está sendo presa.


No último sábado (23), profissionais da saúde realizaram um protesto de 15 minutos no pedágio da Linha Amarela, zona norte da cidade do Rio de Janeiro. Com distanciamento e usando máscaras, traziam nas suas faixas os dizeres "Fora Bolsonaro", "Quarentena geral para não adoecer", "Renda mínima para sobreviver", "Leitos para todos para não morrer".

Quando já estavam guardando as faixas, foram abordados por policiais que estavam agindo segundo ordens de um comandante do batalhão. Por fim, foram conduzidos ao 26º DP e foi autuada a Maria Lúcia Pádua, da Federação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores em Saúde, bem como Carlos Vasconcellos, do Sindicato dos Médicos do Rio.

Em gravação de vídeo em frente à delegacia, Maria Lúcia Pádua, diz indignada:
"É surpreendente que no mundo inteiro trabalhadores da saúde são aplaudidos e aqui no Brasil somos presos"

"Ficamos muito indignados. O governo permite aglomerações nas ruas, o transporte público está lotado, há fábricas funcionando, a orla está cheia, mas eles impedem um protesto de profissionais da saúde pedindo medidas contra a pandemia. Eles não estão preocupados em evitar aglomeração, e sim em intimidar", diz o médico Gustavo Treistman.

Para se ter uma dimensão do problema, até quarta-feira (20), morreram 137 enfermeiros pelo COVID-19 e, segundo dados do Conselho Federal de Enfermagem (COFEN), há 15 mil enfermeiros infectados pelo vírus. Até quinta-feira (21), morreram 113 médicos, quase 2 mortes desses profissionais por dia.
Os profissionais da saúde estão saindo às ruas para reivindicar condições de trabalho seguras e por mais equipamentos e leitos, já que os hospitais não estão conseguindo suportar o grande número de suspeitos e infectados para o tratamento. Hoje o Brasil é o segundo país do mundo com mais mortes devido à inação dos governantes: 22.965; fora os 367 mil casos confirmados de infecção.

Por isso, não se pode barganhar a liberdade de manifestação do trabalhador, e suas organizações que estão lutando contra o descaso do governo nas três esferas. O que essas leis repressivas de quarentena e "lockdown" querem é que a população e os profissionais da saúde continuem morrendo e não haja denúncia a respeito disso.

É preciso abrir os olhos e analisar qual é o problema real: uma política de quarentena que deixa o povo passando fome, desempregado é uma política ineficiente, porque somente alguns, os mais abastados, ficam em quarentena enquanto que a população em geral tem que trabalhar para sobreviver. Ou a quarentena é total, e para isso o governo tem que enviar recursos direto aos trabalhadores e às pequenas empresas para que não haja demissões; ou que haja revogação dessas normas que restrinjam o direito da população se organizar para lutar pela sua sobrevivência.

Importa notar e exaltar que o protesto desses profissionais foram altamente politizantes. Por pedir o "Fora Bolsonaro", sinaliza que o governo não está nem aí para a saúde da população, senão tão somente para a saúde dos bancos e da família do próprio presidente; por pedir a renda mínima, estão indicando que a quarentena total e eficaz só existe quando toda a população consiga ficar em casa sobrevivendo dignamente até a redução do número de infectados. Esse setor está mostrando o que deve ser feito: organizar os profissionais da saúde e todos os trabalhadores para reivindicar uma quarentena para todos, por mais leitos e equipamentos médicos e de proteção, e pelo Fora Bolsonaro. A esquerda amante das cadeias e a repressão precisa parar de conter o movimento reivindicatório e atuar organizando a luta.

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segunda-feira, 25 de maio de 2020

Editorial 25/05/2020 A polarização política e a Frente Ampla


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Mais um ato Fora Bolsonaro na semana passada: ato simbólico na manhã de quinta-feira, 21 de maio, em frente à Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc).
A política no Brasil está sendo cada vez mais polarizada por causa da crise sanitária, colocando o país em uma espiral de acirramento político entre todos os campos. A direita golpista luta contra os bolsonarista em questões como a Cloroquina e a abertura das atividades, já a esquerda, de modo totalmente desorganizado, está indo para as ruas se contrapor aos bolsonaristas nos atos que fazem em favor da implantação de uma Ditadura Militar. 

A imprensa burguesa apresenta apenas parte dos conflitos, buscando deslegitimar os bolsonaristas com a velha alcunha de loucos e fanáticos. Assim, no imaginário político atual, criam-se falsa querelas como a questão do armamento. Toda esta confusão política se faz em um momento em que a falta de perspectiva política da esquerda e suas organizações deixou-os a reboque da campanha #Ficaemcasa, o que imobilizou a reação popular. Deste modo, os bolsonaristas fazem grande avanço ao se utilizar do ódio popular contra as proeminentes figuras do golpe como o governador de São Paulo, João Dória (PSDB), manipulam toda a ira gerada pelo desrespeito aos direitos democráticos. 

Na falsa versão televisiva, uns loucos gananciosos se comprometem com o governo, enquanto nos meios de comunicação que os bolsonaristas estão construindo (You Tube, mensagens de Whatsapp, antiga postura da Band, Record), posam de defensores do povo contra a tirania imposta nesta quarentena. O povo, deixado a própria sorte pela esquerda, fica entre ambas as versões, sem perceber que os bolsonaristas são uma das facetas do golpe. A política golpista de entrega e destruição da economia nacional, tanto dos governadores quanto de Bolsonaro são as mesmas, todos estiveram unidos para aplicar a Reforma da Previdência e o rígido controle fiscal. Do mesmo modo, ambos respondem aos patrões e não estão minimamente preocupados com a saúde das pessoas. Apesar disto, é necessário arranjar um bode expiatório para a fenomenal crise que se avizinha. 
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Estação de metrô e trem de São Paulo.
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Realidade brasileira: enquanto uma elite fica em casa, a população está trabalhando, pegando condução coletiva, expondo-se ao risco.

A direita golpista, com todo o seu aparato midiático, criou o clima para uma saída controlada da futura crise através de uma Frente Ampla. Assim, vários setores direitistas no passado estão recebendo destaque para apresentar a substituição de Bolsonaro, sendo o Roda Viva um dos programas que mais está se prestando ao papel de reciclagem política. O que mais se destaca em toda essa nova demagogia não é só o falso arrependimento dos coxinhas, mas as explícitas colocações contra Lula, mostrando que a real intenção política desta manobra é diminuir os ânimos e frear a polarização. 

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Youtuber Felipe Neto.
Ao mesmo tempo, os bolsonaristas se lançam a campo para aprofundar sua política, reunindo mais pessoas nos atos intervencionistas e colocando demagogicamente o Fora Dória, uma jogada política muito astuta para dar ares de legitimidade aproveitando o tremendo ódio que os paulistas têm do PSDB. Apesar da genialidade, só um analfabeto político seria capaz de acreditar na seriedade desta pressão, pois Dória ou BolsoDória durante as eleições, é tão autoritário e lacaio do imperialismo quanto Bolsonaro. 

Os atos intervencionistas realizados no país, que inicialmente se favoreceram da paralisia da esquerda, agora começam a encontrar resistência dos setores menos ligados a esquerda institucional. Já é o terceiro final de semana que ocorrem confrontações entre manifestações intervencionistas e antifascistas, isso em um ambiente em que começam a surgir atos públicos pelo Fora Bolsonaro levado adiante não pela Frente Ampla, mas por setores realmente combativos como as torcidas organizadas, os comitês de luta contra o golpe e o PCO (Partido da Causa Operária), conselhos populares e por sindicatos de profissionais da saúde. Agora, é preciso sair da paralisia, criar comitês em todos os locais e levar a manifestação de revolta organizadamente para a rua, local de luta da esquerda em que os oportunistas são apagados pela força da movimentação popular. 

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Ato "Fora Bolsonaro" na Praça dos Três Poderes
Sair às ruas, 
Criar comitês populares pelo Fora Bolsonaro

sexta-feira, 22 de maio de 2020

Estudos sobre o Capital Volume I — nº1

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O Capital I — A Mercadoria. 
1. Os dois fatores da mercadoria: valor de uso e valor (substância do valor, grandeza do valor)

O estudo terá início sobre o elemento mais fundamental e unitário da economia capitalista: a mercadoria. Por ela, verificar-se-á as formas de como a mercadoria se expressa na sociedade. Essas expressões encontram 3 sentidos no primeiro item do Capítulo I: valor de troca, valor de uso e valor. Aqui, ele comentará brevemente sobre o valor de troca, que será retomado nos capítulos seguintes de forma melhor desenvolvida, já que as relações do valor de troca envolvem relações com as demais mercadorias, levando a tônica da discussão para as trocas de mercado e o dinheiro. Pois bem, seguindo o item I, falemos sobre o valor de uso e valor (e falemos também brevemente sobre o valor de troca):

I) O valor de uso. A mercadoria expressa um valor de uso. Quer dizer que será útil para o consumo pelo uso. Valor de uso, portanto, refere-se a esse tipo de expressão da mercadoria. Um casaco serve para proteger do frio, portanto, verifica-se aí, o valor de uso do casaco. 
Se uma coisa tem um "valor" sentimental para determinado indivíduo e somente para ele, não há o que falar em valor de uso. O valor de uso liga-se aquilo que é útil à sociedade, ou seja, aquilo que tem utilidade para qualquer pessoa independente do valoração subjetiva. O que interessa, portanto, é saber se essa coisa pode ser inserida no mercado, estando disponível à todos porque é útil a qualquer um.

II) Se colocarmos uma mercadoria determinada diante de outra mercadoria, veremos que essas duas mercadorias, desde que distintas, apresentam uma relação entre si. Uma relação de equivalência. Ou seja, se colocarmos um casaco ao lado de uma cadeira, vemos que a equivalência é pressuposta. Para satisfazer essa equivalência, precisaríamos de, por exemplo, 3 casacos para equivaler uma cadeira. Essa expressão que a mercadoria, o casaco, a cadeira expressam na equivalência é seu valor de troca. Para que os valores de troca de cada mercadoria se compatibilizem e estabeleça-se a equivalência, a quantia de mercadoria deve se compatibilizar.

"O valor de troca aparece inicialmente como a relação quantitativa, a proporção na qual valores de uso de um tipo são trocados por valores de uso de outro tipo, uma relação que se altera constantemente no tempo e no espaço" (MARX, 158).
"Que algo comum de mesma grandeza existe em duas coisas diferentes, em 1 quarter de trigo e em a quintais de ferro. Ambas são, portanto, iguais a uma terceira, que, em si mesma, não é nem uma nem outra. Cada uma delas, na medida em que é valor de troca, tem, portanto, de ser redutível a essa terceira.
[...]
Do mesmo modo, os valores de troca das mercadorias têm de ser reduzidos a algo em comum, com relação ao qual eles representam um mais ou um menos. (MARX, p. 159)"

III) Valor. E se retirarmos o valor de troca da mercadoria e retirarmos o valor de uso, retirando, assim, o trabalho determinado que faria a mercadoria ganhar o valor de uso, e de troca? Se do casaco, retirássemos o valor de uso e de troca, assim, retirássemos a particularidade do trabalho do operário que coloca o algodão na máquina para produzir o tecido do casaco, sobraria somente um trabalho genérico, um trabalho humano igual aos demais, um trabalho abstrato. Esse trabalho toma forma quando o trabalhador da sílica reúne a areia e a queima no forno para produzir copos; que possui uma equivalência com o trabalho do construtor civil que põe tijolo sobre tijolo e ergue um edifício, etc. Ao abstrair o valor de troca e valor de uso para se chegar no trabalho abstrato, revela-se uma comunhão do trabalho (trabalho abstrato) que se reúne na mercadoria (genérica) que também estabelece uma equivalência na relação entre as mercadorias pela expressão do valor de troca de cada uma. 

Mas o quê, materialmente, iguala as mercadorias e iguala os trabalhos? O tempo socialmente necessário para produzir qualquer mercadoria. O trabalhador ao operar por sobre a matéria modificando-a, dispensa um tempo. É como que quanto mais tempo o trabalhador dispende sobre a produção, mais geleia é agregada à coisa produzida. O valor é essa geleia agregada à coisa. Quanto mais geleia agregada, maior o valor.

"Assim, um valor de uso ou bem só possui valor porque nele está objetivado ou materializado trabalho humano abstrato. Mas como medir a grandeza de seu valor? Por meio da quantidade de “substância formadora de valor”, isto é, da quantidade de trabalho nele contida. A própria quantidade de trabalho é medida por seu tempo de duração, e o tempo de trabalho possui, por sua vez, seu padrão de me- dida em frações determinadas de tempo, como hora, dia etc. (MARX, p. 161)".

O tempo socialmente necessário é a média de tempo na sociedade para formar a mercadoria através do trabalho. Se as forças produtivas estiverem desenvolvidas para produzir determinada mercadoria, o tempo para a produção se reduzirá, portanto, seu valor também. 

"[...] Tempo de trabalho socialmente necessário é aquele requerido para produzir um valor de uso qualquer sob as condições normais para uma dada sociedade e com o grau social médio de destreza e intensidade do trabalho. Após a introdução do tear a vapor na Inglaterra, por exemplo, passou a ser possível transformar uma dada quantidade de fio em tecido empregando cerca da metade do trabalho de antes. Na verdade, o tecelão manual inglês continuava a precisar do mesmo tempo de trabalho para essa produção, mas agora o produto de sua hora de trabalho individual representava apenas metade da hora de trabalho social e, por isso, seu valor caiu para a metade do anterior (MARX, p.162)".

"O valor de uma mercadoria está para o valor de qualquer outra mercadoria assim como o tempo de trabalho necessário para a produção de uma está para o tempo de trabalho necessário para a produção de outra. “Como valores, todas as mercadorias são apenas medidas determinadas de tempo de trabalho cristalizado (MARX, p.163)".

Assim, para essa mercadoria, se o trabalhador em um região produz em 4h e, em outra, por conta do intento da indústria, produz em 5 minutos, quem ditará o tempo socialmente necessário será o estado das forças produtivas mais avançadas, neste caso, a indústria que reduz o valor dessa mesma mercadoria.

"Mas este muda com cada mudança na força produtiva do trabalho. Essa força produtiva do trabalho é determinada por múltiplas circunstâncias, dentre outras pelo grau médio de destreza dos trabalhadores, o grau de desenvolvimento da ciência e de sua aplicabilidade tecnológica, a organização social do processo de produção, o volume e a eficácia dos meios de produção e as condições naturais. (MARX, p.163)" 
Como regra geral, quanto maior é a força produtiva do trabalho, menor é o tempo de trabalho requerido para a produção de um artigo, menor a massa de trabalho nele cristalizada e menor seu valor. Inversamente, quanto menor a força produtiva do trabalho, maior o tempo de trabalho necessário para a produção de um artigo e maior seu valor (MARX, 164)" .

IV) Relações. Uma coisa pode ser valor de uso sem ser valor, ou seja, sem ter trabalho acumulado. Algo natural como o ar, a madeira bruta, a luz do sol. Uma coisa se for produzida para uso próprio expressará seu valor de uso, mas não poderá ser uma mercadoria, porque carece de valor de troca, portanto, falta-lhe o valor de uso que pode ser utilizado por outro. 
Não existe, porém, valor sem o valor de uso. Diferente da primeira premissa, estamos falando aqui sobre algo produzido pelo trabalho. Assim sendo, se algo fosse produzida por força de trabalho humana e que não serve para nada, não teria valor. 

(MARX, O Capital Volume 1, Boitempo, disponível em: http://www.gepec.ufscar.br/publicacoes/livros-e-colecoes/marx-e-engels/o-capital-livro-1.pdf/at_download/file, 2007)



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Editorial 18/05/2020 - A situação da esquerda e o golpe militar

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Se pudéssemos criar um mapa da situação do Brasil, seria mais ou menos assim: O governo se depara com a crise do coronavírus, e, na sua infinita disposição de agradar a burguesia, implementa uma política fajuta de quarentena, que não protege a maioria da população, já que quase todos os tipos de trabalho são caracterizados como "serviços essenciais". Junto a essa farsa, oferecem um auxílio também fajuto de 600 reais, que por si só já é uma piada, mesmo se não considerarmos que grande parte da população não tem acesso a esse auxílio por não ter internet, ou mesmo, não ter CPF.

Essa política do governo vai levar o povo a escolher entre trabalhar e morrer do vírus, ou não trabalhar e morrer de fome. Com isso, surgem contradições: o governo, quem diria, passa a ser criticado. Protestos começam a surgir, lideranças da esquerda, mesmo que timidamente, passam a criticar o governo. 

Mourão, vice-presidente desse governo, e, também, general das Forças Armadas Brasileiras, defendeu, em seu artigo "limites e responsabilidades", publicado pelo Estadão, que essas contradições, essa "desunião" do executivo com os outros poderes e do governo federal com os estados, que serão responsáveis por levar o país ao desastre, e que, para vencer o coronavírus, deve ser respeitada a autoridade do poder executivo federal. Esse texto é uma aparente defesa do governo Bolsonaro frente às contradições e rachaduras que ele enfrenta, na crise. Contudo, é também uma sinalização de que os militares podem intervir, para assegurar a autoridade do poder executivo. Mourão, com esse texto, se mostra capaz de eliminar as contradições do país, para, assim, supostamente, vencermos o vírus - o que se traduz, em última análise, em repressão e ditadura. Não é possível vencer o vírus assim, já que a postura do governo federal não vai mudar: continua sendo a mesma disposição de agradar a burguesia, às custas das vidas do povo trabalhador, com quarentenas fajutas e auxílios magérrimos, mas, dessa vez, com ditadura militar.

Ao mesmo tempo que as contradições e os protestos surgem, e ao mesmo tempo que aparece no horizonte a possibilidade de convulsão social, a esquerda cobre os próprios olhos. A resposta para todas as perguntas é "fique em casa", mesmo quando a pessoa está sendo, literalmente, obrigada a pegar ônibus todo dia e ir trabalhar, para não cair no desemprego e na miséria. A grande organização da esquerda brasileira, mais especificamente, suas direções, estão dispostas a fazer vista grossa para a mortandade que está por vir. 

Toda organização, protesto, mesmo grupos de caridade e auxílio mútuo, devem ser impulsionados e organizados pela parte da esquerda que está disposta a lutar pela vida do povo. A politização e a organização desses movimentos é o único caminho para enfrentarmos a crise. Tais movimentos devem se constituir entendendo a importância dessa organização, para que não se tornem movimentos selvagens, como no Chile ano passado, ou na Bolívia, ou mesmo em várias situações no Brasil: ocorre uma convulsão social, a esquerda enfia a cabeça embaixo da terra, e essa explosão popular, por ser desorganizada, acaba fracassando e arrefecendo. 

Não podemos negar a realidade, não podemos imaginar que a classe trabalhadora está amparada na quarentena ou no isolamento social. O governo vai deixar a epidemia de COVID-19 matar o povo, e nossa única esperança é nutrir, organizar, impulsionar e orientar a rebelião da classe trabalhadora.

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terça-feira, 19 de maio de 2020

Cresce a insatisfação popular na pandemia: lutar para não morrer de fome

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No fim do ano passado, estourou na América Latina uma sucessão de protestos no Chile, na Argentina, na Bolívia - onde culminou no golpe de Estado e capitulação de Evo Morales ante ao imperialismo -, tentativa de golpe na Venezuela, enfim, a crise econômica e política expressou-se de modo claro no levante popular e na instabilidade governamental. Essas ocorrências representam o avanço do imperialismo na região que estabelecem nos países que perderam sua soberania econômica e política a cartilha neoliberal das privatizações, arrocho fiscal, retirada dos direitos trabalhistas e previdenciários para que os grandes monopólios industriais e financeiros possam encontrar um terreno propício para dominar a economia e baratear a mão de obra.

O avanço do imperialismo, então, gera inevitavelmente pobreza. O Estado, para pagar as dívidas dos bancos internacionais, enxuga suas contas e faz com que o investimento na Educação, Saúde, Moradia fiquem sem esses recursos, as empresas nacionais contraem altas dívidas porque ficam sem subsídios do governo e, assim, são destruídas pela concorrência das empresas estrangeiras. Como os direitos trabalhistas e previdenciários são retirados, o valor da mão de obra cai, diminuindo o salário, aumentando a exploração do trabalhador, que tem que trabalhar em outros ramos para sobreviver.

A pandemia deu uma relativa pausa à expressão dessa insatisfação popular, muito em decorrência das políticas de confinamento adotada pelos países latinos para evitar o contágio da população pelo coronavírus. Mesmo assim, no Chile, no final do mês de abril, a população tomou as ruas contra o governo ditatorial de Sebastian Piñera, que executou 35 pessoas nas manifestações de outubro e novembro de 2019, e exigiram o fim da Constituição de 1980 que foi imposta pelo ditador Augusto Pinochet e dispõe de normas baseadas no neoliberalismo. Apesar da manobra para realizar um plebiscito, marcado inicialmente para abril e remarcado para outubro, as manifestações recentes continuam porque a crise sanitária também agrava a crise econômica e social, levando a radicalização da população que pede pelo Fora Piñera, exigindo a saída dessa direita ditatorial e anti-povo.

No Brasil, as manifestações contra o governo Bolsonaro, igualmente neoliberal, amante dos bancos e fascista porque organiza a violência contra as organizações da esquerda e de trabalhadores; têm o tom conservador, tímido, porque as organizações de esquerda, em decorrência da concepção de suas direções pequeno-burguesas, concepções de classe média, entendem que os protestos tem que ser virtuais, que a organização para a ação deve ser via redes socais, "panelaços" etc. Nunca que o governo irá se curvar para essas expressões ineficazes de descontentamento. O Fora Bolsonaro deve ser organizado em direção da derrubada real do governo e só com a discussão de um plano de luta no seio das organizações é que se pode vislumbrar esse feito.
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Manifestações no Líbano em plena pandemia (Abril, 2020).
Na mesma linha dos protestos chilenos causados pelos governos neoliberais, no Líbano, os protestos avançam, bancos foram queimados, as ruas da capital Beirute foram tomadas e houve confronto da população com as forças repressivas que estão utilizando balas convencionais. Lá 45% da população está abaixo da linha da pobreza (vivem, em R$, com menos de um salário mínimo) e 75% da população depende de ajuda governamental para não sucumbirem.

O mesmo ocorre na França. Depois que o mundo viu os coletes amarelos em 2018 e 2019 pedindo pelo Fora Macron, governo direitista que aplicou medidas semelhante à brasileira no que toca a política de corte de gastos governamentais - essas políticas, nesse país, provocaram o sucateamento das escolas, hospitais e nas repartições públicas -, está tendo focos de revoltas porque a crise social foi aprofundada pela pandemia. Também no fim de abril, no dia 21, as pessoas saíram às ruas e se chocaram contra a política contra as medidas ditatoriais do confinamento que impedem as pessoas de manifestarem-se e contra o governo do presidente direitista Macron.

A crise sanitária causada pelo coronavírus está levando a explosões reivindicatórias nos países em que a direita e a extrema-direita deixaram o povo na miséria. Para a organização dos trabalhadores, essas manifestações e o modo de como elas são realizadas trazem lições claras do que fazer. Esse movimento de vanguarda escolheu o caminho da luta, de não morrer de fome na pandemia, de enfrentar o governo direitista em busca de dias melhores. As organizações de luta do Brasil têm o dever de orientar o movimento nesse sentido. Milhares de pessoas já morreram por coronavírus em território nacional, quase 500 mil pessoas já perderam seus empregos, pequenas empresas entraram em falência, tudo por inação do governo do fascista Bolsonaro. É preciso aprender com o movimento internacional, organizar e lutar.


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Governo Boric será de direita besuntado em um esquerdismo de fachada

No dia 11 o novo presidente do Chile tomou posse, após 4 anos de governo do direitista Sebastián Piñera. A imprensa internacional deu muito ...