As eleições municipais de 2020 apresentam um quadro político lamentável para a esquerda, aliás das direções da esquerda pequeno-burguesa que insistentemente faz campanha pelo Guilherme Boulos na cidade de São Paulo como se fosse o salvador ou o representante untado pelo Deus do povo para vencer o bolsonarismo e a direita. Olhar para a cidade de São Paulo esclarece-nos o mecanismo da política da Frente Ampla e dos acordos com os golpistas.
Quando a esquerda apoia Guilherme Boulos do PSOL e sua vice, Luiza Erundina (PSOL), aparentemente a ideia posta por esse setor seria a de que a esquerda teria, com Boulos, chances da vitória eleitoral no município. O problema que a análise não é tão simples assim como eles querem fazer crer.
A entrada de Boulos com a Erundina, que enquanto prefeita fez sérios ataques aos trabalhadores (ataque aos servidores da CMTC que lutavam contra a privatização), corresponde ao Ciro Gomes de 2018, só que a um Ciro de esquerda, já que o Ciro é mais direitista do que ele mesmo se pinta, veja-se o posicionamento dele defendendo a prisão do Lula.
Boulos e Erundina servirá para transferir os votos para a direita golpista. Num quadro da direta contra os candidatos bolsonaristas, o Boulos servirá para que a direita possa ter uma perspectiva de vitória.
Quando se fala em Frente Ampla, da política de acordo da direita com a esquerda contra o bolsonarismo, na prática é isso o que ocorre: a direita é a única beneficiária. Por isso que a esquerda e seus partidos têm que defender o programa dos trabalhadores, independente de alianças (Frente Ampla) com a direita golpista. Caso semelhante ocorre no Rio de Janeiro: a direita golpista e o bolsonarismo estão em franco conflito (Eduardo Paes e Crivella, respectivamente) e Marcelo Freixo (PSOL), representante da Frente Ampla no Rio, para ajudar Eduardo Paes (DEM), retira sua candidatura (https://diariodorio.com/sem-freixo-pesquisa-mostra-eduardo-paes-vencendo-em-1o-turno/).
A política da Frente Ampla (Boulos, Haddad, Fernando Henrique Cardoso, Aldo Rebelo, Reinaldo Azevedo) contra o Bolsonaro reflete uma política da direita em pedir ajuda da esquerda, já que a direita não tem tanta força eleitoral quanto os bolsonaristas têm. É uma política histórica de capitulação da esquerda e sua primeira ocorrência foi na Frente Popular europeia contra o "fascismo": o que resultou na frustração das revoluções socialistas e consolidação do regime sob o controle dos partidos burgueses na Europa.
O interessante é que na Frente Ampla participa todos, menos o Lula, sendo o político que, nas condições políticas atuais, posiciona-se como aquele que se opõe a política golpista, já que foi preso e retirado das eleições pela justiça golpista (Lava-jato, Dallagnol, Sério Moro).
A política independente que a esquerda deve levar é o Fora Bolsonaro, o Fora Direita Golpista e o Sem Frente Ampla. As eleições municipais são, no contexto de aprofundamento do Golpe de Estado e capitulação da esquerda, uma tática de segunda ordem. O povo precisa continuar sendo mobilizado para derrubar os bolsonaristas e a direita pela força. Para isso, é necessário fortalecer a política independente da classe trabalhadora e chamar o Fora Bolsonaro com a organização de núcleos políticos de debate e atos em uma política de politização permanente.